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2009/06/09

Menina perfeita à chuva XI

Sentia-se a ficar sem pele, porque da pele sangrava sem sequer ver o que podendo ser sangue, era água tingida do vermelho das possibilidades infindas do armagedão com que o planeta parecia desdobrar-se. Deturpada na essência de ser de certezas feito, era hospedeira do cancro da dúvida. Sentia crescer por dentro o que a tomava por alvo de estupro. Entravam-lhe por si. Saíam-lhe pelo que queria deixar de ser. Entravam de novo por aquilo em que se estava a transformar, para no fim dizerem estar a vencer. Menina-Sol cessara de ser um processo de essências libidinosas em transformação, e só respirava. Azotos perfumados, com misturas do suave com que a água nos envolve, arremessavam-lhe as fossas nasais para o profundo do desconhecimento. Era portadora de hóspedes, que de hóspedes tinham o desejo de matar. Acabar com o previsto da respiração, e deixar em vez disso a plenitude do andar para sempre à espera que o ar encha de novo pulmões gastos pela indecência. Seria confusa toda a envolvência de morte, se a morte ela própria já não se tivesse tornado companheira desta viagem. Guia para um horizonte que restava-se a si mesmo para se manter lá onde sempre esteve. Menina-Sol já não chora. Tinha desaprendido de ser Ser.

#I, #II, #III, #IV, #V, #VI, #VII, #VIII, #IX, #X

2009/02/12

Menina perfeita à chuva X

Já esperava que a terra a envolvesse como num pedido de socorro que estava escrito algures na plêiade do tempo que já se gastou, e adivinhado no que ainda falta até, um dia, o planeta dar o suspiro definitivo do adeus. Soaram tambores de descontentamento. Menina Sol tentava não romper o saco lacrimal do desespero que sempre se tinha habituado a carregar. O fogo levantava-se do chão, e lambia-lhe as gotas de medo que timidamente lhe rompiam na fonte. Os passos da timidez sufocante a que chamava companheira de vida, deixavam marca na terra que, a microns de segundo, derretia o caminho que já havia percorrido.
O horizonte já se fazia em uno com a 'careca' do planeta. O tempo parecia ser só um factor mais na confusão de sinais que ter medo, significava naquele instante do tempo que assustava. Era o vento quem o dizia. E do ar escuro, com cheiro a mortes consecutivas, começaram a surgir os seres da dúvida. Pequenos híbridos desconfiados, de cabelos cor de nada, e olhos que diziam tudo. Às dezenas, às centenas, desdiziam o amor. Deixavam-na sentir mal, para que do mal nascesse a certeza de que o bem não vale a pena. Chorou por fim. Mas era um choro-riso. O descontentamento dos risos contidos, porque não tinham lugar por onde sair.

#I, #II, #III, #IV, #V, #VI, #VII, #VIII, #IX

2008/11/20

Menina perfeita à chuva IX

Quando descontar os segundos de uma existência assustadora parecia querer significar o fim,....afagava-se. Escarafunchava o peito à procura de dois planos para contentamento alternativo. Esperava pela curva certa da rotação assassina, e jogava-se para dentro de si própria. Andou mais depressa. Sentia a terra a entrar pelos poros da pele, como que se quisesse fazer dela o húmus que devora a vida, e depois a vomita. Menina Sol não tinha destino. Só se lembrou de quando aprendeu a falar certo, em momentos errados. Dizia só, quando o mais que muito significava desprezo de que quem queria que a amasse. Dizia mais, quando queria que o menos a aconchegasse à noite, e lhe certificasse que a vida chegaria ao fim antes que a tristeza fosse um real pintado de certeza.
O vento cresceu. Rebentou os diques do suportável, alienou o que incapacita o racional dos homens e das mulheres. O céu pintou-se, e pintou a terra de cinza crosta. Deu novos feitos ao que as pessoas insistem em querer ignorar como postura própria para a magnanimidade.
Já se via a sombra do fim do mundo, naquilo que uma sombra tem de aconchegante e acolhedor. Pé ante pé, a solidão feita mulher caminhava para o que não sabia poder fazer dela ainda mais menina.

#I, #II, #III, #IV, #V, #VI, #VII, #VIII

2008/06/27

Menina perfeita à chuva VIII

A terra parecia querer minar-lhe os desejos de superação. Sentia vozes cândidas a grassarem pelo ar fresco. Sussurros, que tão depressa se desfaziam no vento em crescendo, como o sufocavam, deixando o ar com a secura de um Verão em agonia.
O céu queria mimá-la. Oferecer-lhe um infinito de coisas boas, para que as coisas más se evaporassem com todo o mal.
Mau de ser, péssimo de parecer.
E o esforço para acalmar.
Menina Sol queria arrastar a alavanca que se partiu ao mudar o mundo. Queria levá-la consigo e, com ela, pensar em novas concepções de fixar as maleitas dos horizontes imutáveis. Eram realidades novas para ela, mas presentes com uma força que se auto-transformava. Eram linhas adoráveis. Mudas, mas educadas. Translúcidas, mas viçosas de tão adoráveis. Envolviam-na pelo coração. A princípio quase que se sentia assassinada. O peito alvo e cândido que teimava em esconder, ribombava com pancadas secas. As pernas eram presas, e depois reviradas com uma força centrífuga que a deixava às portas de um mundo alternativo.


#I, #II, #III, #IV, #V, #VI, #VII

2008/05/08

Menina perfeita à chuva VII


Foi um primeiro passo que não existiu. Lembrou assombração em casa de discórdias. De tão leve, obrigou a outro. Mais forte. Que deixou marca na terra molhada. Menina queria renascer. Recordar ao mundo que a fez, notas sobre a personalidade fraca que trazia no peito. O terceiro passo foi o embalo que precisava. Ao quarto, seguiu-se o acelerar. A madrugada raiava no horizonte de chumbo. Menos de chumbo, agora talvez de alumínio gasto. Daqueles materiais que anunciam a alegria.
Menina sol lembrou-se do amor. O menino pó morreu, mas restava um coração depurado. Estava cheio de pequenos buraquinhos, que deixavam passar o vento atrevido. Sentia-se violada por factores naturais que a queriam possuir. Mas o habituar a um mundo que não nasceu amigo, é talvez a melhor forma de saber lidar com ele.
Coração que ainda existia. Estava lá. E insistia com ela para abraçar as expectativas. Sol aprendeu a distingui-las no campo de girassóis, que crescia à beira da casa de repouso onde procurava por si própria. Ensinou-se a conhecê-las pela cor de vida. Distinguiam-se, quase como se falassem. À procura de um conforto.

#I, #II, #III, #IV, #V, #VI

2008/05/02

Menina perfeita à chuva VI

Sempre lhe passaram ao lado os sussurros de devoção. Daqueles bonecos que um coração que quer, pinta numa boca que treme de emoção. Porque menina, é mulher do avesso da alma. E mulher menor, são lamentos que não interessam em nada quando chove. Mulher que não presta, é choro de bebé que quer agarrar o mundo, e só fica com grãos de pó na ponta dos dedos.
Parou de chover.
Narrativa de sol, tem de dar nome a um objecto.
Menina ainda é isso.
Objecto, sem sentimentos que contem.
Chamar-se-á Sol. Não que conte para encontrar um fim de providência para um personagem de picos emocionais. Mas porque condiz com uma cara amorfa, depois de um pico de inferno meteorológico.
Ainda sorri.
São cantos da boca empinados, que fazem lembrar o que não se leva deste mundo depois de o corpo se entregar à morte. São olhos que reluzem porque recusam a esvair-se num sangue de tristezas. Menina Sol, levantou-se, e andou.

#I, #II, #III, #IV, #V

2008/04/28

Menina perfeita à chuva V

Rolou na cama de sonhos que lhe compraram como presente de nascimento, e apanhou as letras. Era um dilúvio. Pressão craniana que o mundo trouxe, simplesmente num fechar de olhos. O ‘A’ deu-lhe segurança. Pintou Zês nos céus de chumbo lacrado a sangue. E o ‘R’ de revancha. Tornou-a mulher de somenos importância, e menina aberta ao conhecimento. Lembrou-se de Deus, servido numa bandeja de fruta em casa do barão do sétimo céu. Provou o pó que lava a cara da mãe que perdeu o filho esganado em fome.
E juntou os gemidos da palavra amor.
Escorria chuva fétida. Gotas que cheiravam a peixe, podre, e indecorosamente livre da palavra humanidade. Se somos o que pintamos, nunca poderemos ser o que lamentamos. E então levantou ossos. Deixou a alma no chão, onde pensou que tinha perdido a virgindade do sofrer. Mas levou o corpo. O sol reinava, algures ao fundo de um céu octógono. Menina frustrada, à chuva de amo-tes que sabia existir. Mas que nunca havia encontrado.

#I, #II, #III, #IV

2008/04/16

Menina perfeita à chuva IV

Feliz de dia quem lamenta o que não fez à noite. Infeliz ao deitar ela. A menos esforçada alma transparente. Que sempre penteou os cabelos louros pensando que eles eram azuis. Que sempre pintou os lábios transparentes, esperando que eles fossem pretos. Negros de morte. Daquele desaparecimento espiritual que leva a pintura de vida de quem faz realmente falta entre os quatro cantos de um planeta esférico.
Teimava em acidificar, a chuva. Não seria um aguaceiro, porque o céu lembrava mar depois de naufrágio poluidor. Mas também não era o dilúvio, porque o fim do mundo sente-se.
Entranha os ossos sem ser chamado, e faz das lamentações sangue amarelado. Pasta que lambuza a cara dos sofredores, e deixa os felizes, contentes até ao fim do segundo que vem a seguir.Menina frustrada, à chuva. Lembrou quando aprendeu a ler. Foi uma festa. Uma tempestade de sabores que a vida brinda em bolo de aniversário.

#I, #II, #III

2008/04/15

Menina perfeita à chuva III

Clamor de chuva. Porque o líquido desfaz sentimentos. As estrelas choram, porque não comeram. As estrelas moram por cima da cabeça das pessoas que são pessoas. Não dos seres que rastejam em banho-maria de lama. Menina tomba de cadeira de pau podre, imóvel. Sempre com olhos vazios. Clara de pele.
Escura de alma, porque a alma faz entristecer o coração. E quem não tem coração, não pode ter uma alma viva.
É isso, falta de coração. A aparente morta de vida, estava viva de pensamentos laqueadores. Coçou a cara, e flagelou a nítida vontade de voar. Queria, mas não podia, sentir fronhas de andorinhas em debandada a roçar-lhe na cara. Pensava pouco. Reagia o que podia. E a reacção, bate sempre mais fundo que a acção.

#I, #II

2008/04/14

Menina perfeita à chuva II

Bastava só que acreditasse em mundos paralelos. Rapaz de pó, vezes entrega total, igual a amor. Paixão de povo lutador. Mulher que entrega. Homem que aproveita. Mulher que dá. Homem que explora.
Simples amor de dois corações em equação fatal. Menina que sorria, e o sol voltava. Desapertava o edredon de chumbo que o céu cinzento usava para se tapar e, a custo, vinha acariciar-lhe um rosto incapaz de suster cascatas de lágrimas. O pior são as dores de hesitação. Menina perfeita que tratava por tu o dedo indicador de Deus. Acatava ordens hermenêuticas. Acreditava que a vida tem de ser pior, para um dia, um longínquo dia, consiga finalmente ser melhor. E o vento percebeu. Entrou-lhe pelo coração dentro, rasgou a frágil barreira de seda que ela própria tinha tecido como segurança, e traiu-a. O azar bafejou. Soprou. Enrolou a língua, e arremessou a tristeza. O rapaz de pó desfez-se, no meio de dois trinados de pardal moribundo. Ela não chorou. Apenas emudeceu. O dia acabou, deitou-se na cama de lamentos que o acolhe há séculos, e a noite saiu para caçar. Menina sentada em cadeira de pau podre, com vestido de cambraia imóvel.

#I

2008/04/13

Menina perfeita à chuva I

Fez de si um borrão em carta de despedida de vida. Falhanço criativo, em noite de chuva. Tempestade aiurvética, acompanhada com a cavaleria rusticana de dois trovões que caem no mesmo sítio de um quintal de nespereiras de acervo. Tratava-se de uma indefinição subjectiva, que a acompanhava....
Refazendo a ideia,...
que se colava à pele de quinquilharia que sempre quis arrancar.
Foi a menina., sim, experiência genética ‘não alfa’, que chorava aos cantos da escola de cantos redondos. Nunca sabia o que tinha, sempre soube o que queria.
Mas diluía-se em expectativas indefinidas de felicidade gótica. Quis casar com um dragão de masmorra de castelo, e ser feliz à sombra de uma nespereira de acervo. Desistiu, quando o mundo um dia lhe disse que as meninas são pingos dos anéis de Saturno, que esperam o fim a qualquer momento.
Tudo estaria alegadamente dependente de Deus um dia se aperceber que tinha errado ao criar uma raça humana que se levanta, quando o dia nasce, simplesmente para se deitar quando as estrelas se alimentam, com a sensação de desprezível alegria astrológica.
Teve flashes de felicidade meteorológica. Adorava sentar-se em cadeira de pau podre, e sentir a frescura das chuvas de Outono. Caracóis de um louro desmaiado humedeciam ao passar dos segundos, e tornavam-na parte de um ecossistema de renovação. Terra, água, e ar, embalavam a pessoa de indefinições em desejos de aspiração divina.
Para depois gozarem com o sorriso de neve que sempre a matou por dentro. Sofria com o vestido de cambraia que a avó de afectos lhe bordara. Serviu o cós da saia muitas vezes para assoar fluidos de vergonha.
O rapaz de pó acariciava-lhe o rosto, e prometia-lhe redenção. Ela não existia. Mas ela poderia vir a ser caso sério de amor incondicional. Sem réstias de arrependimentos.