2022/01/31

Espera inútil

descartavam o cálice,
beber diretamente da pele,
só era considerada a luxúria contida,
respirar antes de obter,
perceber se o dia terminava
envelhecido,
dentro da noite,...

ou a madrugada,
ente surreal e sem definição,
era esperada com um grito surdo,
de prazer enovelado e 
de parcimónia

2022/01/30

Levas em cada anoitecer

 À beira de mim,

Tudo o que desconheço assume as formas inodoras,
Das vidas que aqui desabrocharam,
Dos rostos que nunca saíram das mãos em concha,
O que vem traduzido nos choros de angustia,
Que de noite descem estas paredes,
E me envolvem num decrepito altar,...

O que sei de ti,
De certa forma,
Está embrulhado nesta dedicatória,
Em forma de rosa,
Que de mim levas em cada anoitecer


2022/01/29

Um dia gostava de saber escrever assim

 As coisas que mais prazer me deram na vida

Agrafar, carimbar, cortar uma página pelo picotado, fazer buraquinhos numa folha com aquela maquineta de fazer buraquinhos, o palrar de um bebé, calar de súbito o som a meio de uma ária de ópera, esmagar as bolhinhas de uma folha de plástico transparente, ver da janela, lá em baixo, o primeiro pássaro da manhã, olhar o retrato do Papa Inocêncio de Velázquez, meter na boca um pé de criança de três meses, uma finta de Garrincha na televisão, o sorriso súbito de certas mulheres, um sino de aldeia ao fim da tarde, as luzes de Beja à noite na planície, a Serra da Estrela vista da varanda dos meus avós quando eu tinha cinco anos, a minha filha Joana, pequenina, a desenhar a sua primeira árvore, o meu avô a fazer-me uma festa comigo quase a adormecer, o tenente, quando eu era cadete, a ordenar a Marcha lento e à vontade, um pirilampo no quintal a meio da noite, a voz da minha mãe a recitar António Nobre, um gato caminhando devagarinho no muro da buganvília, montar uma zebra de pau no carrossel do oito, dizer gosto de ti para um rosto que aumenta, os olhos azuis da Avó Querida quando me chamava meu amor, agrafar mais, carimbar mais, uma mulher a murmurar Meu Deus na almofada, o pneu afinal não ter furo nenhum, o médico junto à minha cama Vou dar-lhe alta, um falcão a passar junto à janela, o guardanapo com uma rã a saltar ao eixo, começar a ver o fundo do prato quando me davam sopa, beber água da bilha na casa de Nelas, a campainha do recreio a meio de uma frase do professor de Matemática, a primeira vez que dancei de cara encostada com uma menina de treze anos também, o palhaço que me apertou a mão no circo, a tia Madalena para mim Estou aqui filho comigo com a tuberculose, o raio verde no Caramulo, agrafar mais, carimbar mais, vestir a camisola do Benfica aos quinze anos no primeiro treino, as Variações Goldberg, chegar da mata em Angola, os primeiros passos da minha filha Zézinha, eu a ensinar a Isabel a ler, o meu primo António a explicar-me Se a mãe sêsse o pai puzia gravata, um abraço do meu tio João Maria, o meu pai a deixar–me ganhar-lhe uma corrida, o meu irmão Pedro a contar Já vou no Pardal de regresso de uma aula de Catequese sobre o Espírito Santo, o primo Alfredo que me levantava acima da sua cabeça e eu maior do que toda a família, a minha mãe perfumada com Chanel número cinco, a Gija a coçar-me as costas antes de me vestir o pijama, a professora de Português, no primeiro ano do liceu, a apontar-me à turma Este menino vai ser um grande escritor e eu feliz, a primeira vez que li A Ruiva de Fialho de Almeida, o sabor da minha boca depois de um rebuçado de hortelã pimenta, a cor do mar da Praia das Maçãs às seis da tarde, receber uma carta de Céline quando lhe escrevi aos quinze anos, o dia em que o Cifra me veio dizer que tinha uma filha e fui chorar de felicidade e raiva para o arame farpado, os meus pais terem-me encontrado quando me perdi em Veneza aos sete anos junto a um dos leões de pedra na Praça de São Marcos, o meu avô a murmurar Meu netinho acariciando-me o pescoço, beber água da bilha, o primeiro dente de leite que descobri de manhã na almofada, a esperança de voltar a ler As Aventuras De Dona Redonda E Da Sua Gente, a minha pilinha de repente grande e eu cheio de orgulho e vergonha, com a minha mãe a fingir que não via, o tio Joaquim a levar-me até aos Correios, na Beira Alta, no quadro da bicicleta, o palhaço pobre que me deu um passou bem no circo, comer cocada de Belém do Pará feita pela tia Isabel, eu em Paris à procura da cegonha que me tinha trazido dali para Lisboa sete anos antes: ainda não perdi a esperança de a encontrar e de certeza que ela se lembra de mim, acho eu. Ter feito chichi em Nova Iorque ao lado de Mickey Rooney. Cortar, mal acabe isto, todas as páginas do bloco pelo picotado. Acho que devo ter por aí uma dessas coisas de fazer buraquinhos: que mais pode um homem desejar?
António Lobo Antunes
(Crónica publicada na VISÃO 1289 de 16 de novembro de 2017)

do lado de dentro das janelas

 do lado de dentro das janelas,

por dentro dos meus limites,

era abrigado da chuva,

da poeira inofensiva da morte translúcida,

que me achava aos poucos,

desfeito em equívocos,

certo da decomposição das minhas dúvidas,...


do lado de fora das janelas,

a inutilidade de um beijo,

sobressaía por entre o desfazer

das tuas ausências,

certo como um filósofo da antiga Grécia,

que se deixava morrer aos poucos

nas Ágoras,

ali me tinha,

do lado de dentro das janelas

2022/01/28

Diferente dos restantes


era um perfil de Direito,

de homem de letras,

reto nas decisões,

imperecível nos frutos dos seus amores,

como se da antiga Grécia lhe brotasse a coerência,

o vento que anuncia o final do Outono,...


passeava aos gomos de laranja,

e fazia-o com um cheiro ácido de arrependimento,

anulado pela pouca respiração que desperdiçava

no ar poluído de todos os dias,...


e havia um sinal,

uma inflexão da rotina,

que o caraterizava como diferente dos restantes,...


era assexuado,

não gostava do compromisso

2022/01/27

Quinta-feira rasgada


Escrevo-o porque ao sol,

As dores bebem-se antes até de pensarmos em comer,

Escrevo-o porque dos meus olhos não é suficiente a demasia do que devo,

Escrevo-o aos gritos,

Sem pesares de insultos por proferir,

Roupas por rasgar,

Até pessoas que fiquem por insultar,

Debaixo do sultão amoroso das letras lamechas e tristes,...


Escrevo-o porque te avisei,

Vou deixar de escrever,

E há um triste solitário que foi degolado no próprio silêncio 

Dúvidas fundadas

 


Eu não vi o tipo de coisas sexuais,

Que se agarravam à melanina da pele como o sol,

Em desespero de causa,...


Não vi mas arrependo-me,

Hoje poderia ser um homem que escreve nas margens de uma folha de caderno,

E se apodera de um argumento da mesma forma,

Que os revolucionários quiseram a bastilha,...


Mas há aquelas situações,

Como o homem que se diz susceptível à beleza,

E no dia seguinte morre,

Ainda hoje não as entendo 

2022/01/26

Recôndita missão

Ia perguntar-te como o sol se põe,

Se a noite não tem nem sequer um sitio para dormir,
Nem longe nem perto para chegar além do local onde as pessoas normalmente dizem que gostam umas das outras,
E depois partem para nunca mais voltarem,...

Ia querer saber se estarias disposta a assinalar o xis nas costas da minha mão,
Sabendo que das minhas resiliências já nada resta,
E hoje mesmo uma inofensiva pessoa parou junto de mim,
E me cuspiu uma recôndita missão para que o resto da minha vida,
Valha mais do que o simples,
Os simples encostos de cabeça que faziam terminar o que foram as nossas noites,
Das quais hoje já só restam as pedrinhas do sorriso anulado 



2022/01/25

Strand of Oaks V

 a intenção de deixar de caber no dedo,

que aciona o manípulo da loucura,

nunca é nossa,...


há pedras onde tropeçamos,

e na rua ninguém ampara a nossa queda,

levantamo-nos,

com o corpo a esvaziar de ar,

e mesmo assim continuamos,...


com um som estridente a sair

das ranhuras das articulações,

e lá em cima,

onde está o nosso destino,

a intenção de ficar nunca é nossa,

talvez nem seja de ninguém





2022/01/24

Strand of Oaks IV


 Ao menos que nasça como a contemplação de todas

as coisas,

os gineceus mortos em cada mulher,

a antropafagia dos machos desesperados,

tudo que se some numa nuvem inóspita,

irrefletida,...


como se a soma dos minutos

perdidos,

perdesse o isolamento,

a irreflexão,...


há novas caras,

nas personagens desta história

2022/01/23

Strand of Oaks III


sessenta e tal horas,

não sei nem interessa,

há um vento,

dissecado em parcelas que renovam

o cheiro de adeus,

na roupa estendida,

os teus equívocos em cada renovada

ilusão do meu caminho,...


de todas,

as asas incertas dos meus pássaros,

os invisíveis seres que batiam

asas,

para me livrar de sombras incompreendidas,...


sessenta e tal horas,

mal contadas,

que se renovam em meio suspiro

incompreendido


2022/01/22

Strand of Oaks II

a vida já não é a mesma,

come-se à mesa sem que a luz

namore com os nossos espíritos,

nos espaços que haviam entre as

 sombras,

repousa agora a velhice dos tempos

modernos,,,,


e lá ao fundo,

onde antes a luz se acomodava para

dormir,

não está nada,...


sim,

obrigam-nos a conviver com a ausência de ser,

porque a vida já não é a mesma,

há um fruto da dúvida que nos,

corrói a carne

2022/01/21

Strand of Oaks I

de modo diferente,
com um frio que impregna
a pele,
e desconecta os ossos,
as pessoas estendiam-se
como lençóis enegrecidos,
nos varais de décadas sumidas,...

havia a resolução certa de
 um amor por cumprir,
duas batidas na mesma
porta de sempre,
que já nada tinha no ébrio da escuridão,....

e porventura a loucura,
vestida de noiva a passear-se
por ruas sem nome,
mas com data de funeral sumido,
a pulsar debaixo de cada passo,...

e como acaba este livro,
ninguém saberá,
mas os montes de seios
fartos no horizonte,
poderão adivinhar

2022/01/20

Hora de almoço chuvosa

 


Não é algo de que se tenha a certeza, 

A aproximação é feita a custo,... 


Sei que a água começa por saber mal, 

E a razão do ódio, 

Fica expressa na forma como o velhote dá os murros no ar, 

Sempre enviesados, 

Sem um padrão de espectacularidade,... 


Afinal, 

Por aqui, 

Não há ansiedade que caiba em bolsos de calças, 

E um conjunto de dúvidas irracionais a que chamamos religião,

Que se apresenta assim,

Tem um proselitismo jovial,...


Não sei se me escapou algo nesta Eucaristia, 

De hora de almoço chuvosa

2022/01/19

Confissão desmaterializada


 Chamo-me,

Fica ao teu critério esse pechisbeque de como,

Achamos que nos devemos chamar,

Sei que tenho uma coluna vertebral de vidro,

Braços e pernas que se espraiam por letras e letras sem sentido,

Se aqui estou a dizer-te estas histórias inconsequentes, 

Que se bem me lembro a boa educação não me permitiu,

Apresentar à discordância de ninguém, 

É porque tenho confiança de que tudo vai correr bem,.. 


Ninguém sabe de mim, 

És talvez tu a única pessoa, 

que partilha monóxido de carbono comigo, 

Desde há muito tempo, 

Por isso espremo o melhor de mim, 

Até que a noite me leve a desaguar em qualquer outro sitio 

2022/01/18

Escrito com outra letra

 


Sentia as esferas dos olhos a rebolarem pelo horizonte,

Deitado sempre junto ao abismo,

Céu de chumbo a abrir-se no que pudesse vir,

Era quase como uma obrigação,

Estar ali amputado de um sentido,

Mas com os outros indissociáveis do amor,...


Chamava-se impressão,

Sem dedos,

Sem esperança,

Mas confiante de que o lugar do homem é a caminhar pelos nós dos dedos,

Acima

2022/01/17

Perdido, perdida


 o que pensei ser uma delicadeza,

um encontro,

o dar de mãos possível,

abrigado da intempérie,

revelou-se a frase certa,...


o suspiro perdido,

os dois passos a mais dos que

se perderam,

propositadamente,....


irrefletido soa melhor que perdido,

e a luz,

não se perde se a pensarmos,

assim,

perdida

2022/01/16

As nossas escolhas

 O que fizermos das nossas escolhas,

Dos nossos olhares,

Será a nossa reflexão a estar em causa,...


Num dia de sol encoberto,

Com pessoas inofensivas a deambularem sem destino,

E lá onde se decidem as pressoes desnecessárias,

Que estaremos a enfabular o suficiente,

Para que tudo recomece 

2022/01/15

Sábado enublado de tarde

o que sei do que me dizes
quando amparas os olhos,
no momento em que caem,
dissolvendo-se em ácido no colo
da Terra,
é que poderá ser uma poesia,....

há abstração,
um choro longínquo
sob a forma de sorriso amestrado,
que controlas sem conseguir,
existo eu o avaliador de
consequências,
e pode haver uma gaveta
do que me resta de consciência,
onde guardar tudo até que a
criação me fecunde de madrugada,...

mas poderá sim,
ser uma poesia

Agradecimento

 Quero agradecer às desilusões que me habitam,

Sem elas,

As cores não eram tão intensas como a explosão da criação,

Nem o afastamento,

Pesava tanto como a culpa que dorme,

Depois connosco,...


Obrigado numa medida própria 




2022/01/14

Apeteceu-me escrever isto muito rápido para dedicar a quem tem a paciência de me ler 😊

 As vezes que me seguiste,

Pelas vezes em que me perdi na minha própria casa,

Sequioso e desorientado,

Ávido daqueles poemas de Herberto sobre os quais tinha dormido,

Enquanto ansiava ser maior e porventura desalinhado com a ventura de um desmaio,...


Mas a frase solta,

Aquele argumento que escorrega da folha para o nosso colo,

E me dava sempre o sexo possível,

Nos entardeceres que eras capaz de conceder a esta régua,

Fraturada,

Que foi algures no tempo a fechadura de uma casa comum

A ssus tar

nada de nostalgias,

a verdade,

a versão de um sonho sem

resolução possível,

tudo encaminhado para o fim que

escolhemos,...


sem protagonistas,

com a futurologia certa,

espalhada em pratos de comida ambíguos,

e um perfume de ciência no corte

de prazer,

que a tua coxa insiste em ostentar,...


e há a luz de todos os momentos,

engarrafada ao canto do quarto,

revolvem-se lá fora as magias que levas,

nos folhos do vestido de imagem

eterna de um som




2022/01/13

Azevinho


 O caminho,

teremos sempre o caminho,

o mesmo onde não me levaste,

e em que cheirava mal,

uma, duas, três parcelas

de azevinho,

e pronto,

até o amor serviria o peso indistinto

da inevitabilidade,

mas não há luta,...


só o conformismo sem peso,

do luar,

debaixo do qual até te

posso amanhã,

esperar

2022/01/12

Contar algo

 


Contar esta decisão ao Dâmaso, não o da tragédia do Eça mas o que foi homem até um dia ter parado de vender as melhores cervejas da minha rua, para mínguar sem razão aparente, foi complicado.

Não havia possibilidade de retorno a uma história mal pensada, que se tivesse redigido em cima do joelho.

Ia dizer lhe que estava disposto a trair os meus princípios. Deixar de ser aquele a quem todos gostavam de dar palmadinhas nas costas, para ser o que se preferia ignorar, deixar isolado.

E ia fazê-lo de forma irreflectida, que deixasse marca....

2022/01/11

Fatalismo dos versos desnudados

Quero que me dês uma casa certa,
Para que pintar cheire a desejar,
E haja sítios onde ninguém foi,
E que ocultem desejos,
Coisas que têm tanto de banais como de ofuscantes, ...

E depois
Depois sairei por aí a recitar a água,
Com veias de couro e coração de esponja,
Para que não retenha nada
E de repositório tenha apenas,
O fatalismo dos versos desnudados


2022/01/10

....inevitável


 ao fim e ao cabo a absolvição,

ocupar um lugar onde não se é chamado,

e o dia em que sentada na fonte

de todos os dias,

a água começou por me cobrir as

pernas,

não havia tempo para o inevitável,

só medo,

um braço,

cabelo enovelado,...


quase como se a individualidade se esgotasse,

mas o feminino prosseguisse,...


levantava-me,

para regressar no dia seguinte

2022/01/09

Trivialidades

 e como resolvemos as nossas trivialidades,

o ser humano quando nos convém,...


braços cheios de aforismos desnecessários,

que só servem quando de costas,

esperamos por mais qualquer

coisa que um lamento,...


amanhã, 

sempre haverá mais amanhãs,

assim queiramos escrever em

tons diferentes,

quando o céu escurece sem razão




2022/01/08

... Indecisões mortais


Não se trata do dinheiro que fica por pagar,

Ou do lugar inusitado em que se discute sexo para velhos,

Sabe-se sim que tudo arde,

Desde que tenha um preço,

Assim que o mesmo perde a validade,...


Não há lugares tranquilos em que isto se discuta,

Apenas um cão que corre atrás de carros,

Sem conseguir apanhar o amor,

Ou sequer a ilusão 

2022/01/07

posição fecunda de um adeus

 


Não é de grande ambição pensar que
o que se vê,
a lua,
o estrado entre os nossos passos e o abismo,
já existía antes até de haver o existir,…

A suposição que nos rodeia,
a perceção de luz que ampara as más
feitas escolhas,
incapacita o desgosto,
tira tragédia às lágrimas que se
perdem,
antes até de fecundar a Terra,..

E por mais que se queira,
nada disto enche a casa dos versos,
só adia a posição fecunda de um adeus


2022/01/06

...é tarde neste lado do mundo

 A razão do sangue,

Foi-te explicado,
As mãos no mesmo bolso,
O tronco como o tiveste naquele intermezzo com banda sonora,
De alegria,
As pernas hirtas como as árvores que já te viram,
E aos que foram sendo como tu durante séculos, ...

A possível irresponsabilidade desta cena,
Não me assiste,
Eu só constato que é tarde neste lado do mundo 


2022/01/05

Mãos refletiam paz

 Todas as pessoas vinham com um propósito,

As mãos reflectiam paz,
Os olhos o amor possivel,
Sem desejo,
A cada minuto com a água a correr na tristeza que arrastavam,
Havia um fim,...

Longe da marca inútil do desespero 



2022/01/04

Ela já não trabalha aqui

.... haverá com certeza formas melhores de contar esta história. Mas só me sinto confiante com esta. Ela já não trabalha aqui. As paredes diziam-no. A porta do estabelecimento, com todos os seus retorcidos ferrugentos de metal, que serviam de ressalto às grossas pingas de chuva deste Inverno tão pouco lisboeta. Quando ela aqui estava, as coisas estavam menos abandonadas. Havia sol por entre as nuvens,...isto pode ser fixação minha, mas sinceramente acredito que sim. As montras tinham sempre flores. Muitas flores, dispostas ao acaso, que enquadravam os cestos de fruta que assim se tornavam um desejo balzaquiano para os clientes, que não paravam de entrar. Hoje, tudo está escuro. Vendem-se bebidas sem marca. Comida ao desalinho, em que ninguém toca. Há quase sempre um exemplar do jornal mais lido da freguesia, mas que pouco se consegue ler devido ao baço dos vidros. Acho mesmo que ela já não trabalha aqui. Desconheço para onde possa ter ido.




2022/01/03

...todas as formas brutas de chorar

 A qualquer momento sobrepõe-se o correto,

À indisposição,
Por isso,
Tenho-me como religioso do nada,...

A acreditar que há um Messias,
Em todas as formas brutas,
De chorar 

2022/01/02

Sem alternativa


 para passar tinha,

de ser estreito o caminho,

habituara-me a haver só uma maneira

difícil de se transpor,

com saltos mínimos,

de pedra em pedra,

até os pés assentarem em lama escorregadia,

custava a ficar com o equilíbrio,

e a deixar fugir o medo,

mas conseguia-se a custo,...


depois era seguir,

quase como que pelas linhas e sulcos

dos rostos de todos os dias,

até dealbar na completa desilusão,

não haveria alternativa

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