2021/05/31

Rasto de vergonha

 


Talvez para sabermos se fomos os enganados,

Haja um chapéu que cubra o rasto de vergonha,

O mesmo que exalamos com contornos definidos,

Sem que haja o amanhã de que me falaste,

Ou a mesma noite em que me criei,... 


Aniquilado de todas as sombras,

Este é um fruto confuso,

Não mais me debruçarei sobre ele,

Se assim não o quiseres 

2021/05/29

Chuva de pó apodrecido

 


As novidades certas,

O passar do tempo medido em chuva de pó apodrecido,

Tantas formas de sentir ilusão pelo amor,

Desprezo pela insuficiência que a chuva nos proporciona,....


Era assim que se passavam o que chamava de dias,

E me iam faltando as bordas chuleadas de um desejo,...


Refletindo,

Talvez me doa a falta de sentido,

De pensar desta forma que dói sem deixar marca,... 


E ainda não há marca do precisar no céu 

2021/05/28

... Mundo um pouco menos escondido


 E ele vai lá,

Onde as sombras já não calçam as botas de trabalho,

Onde a falta de adenoides não deixa os meninos dormirem à noite,...


E quando ele volta,

Volta diferente,

Faz uma cama de laranjas e deita-se nela a pensar que é a mais linda das mulheres,

E não há transumância de sentimentos,

Tudo fica ali,

A cheirar a primavera,

Com bonecas sem olhos,

Sem boca,

Envergonhadas da escuridão que lhes pinta a pele há tanto tempo,

Que só elas sabem,...


E ele vai de novo,

Pensando que se for,

O regresso será a um mundo um pouco menos escondido 

2021/05/27

Mandrágora



 Num mundo ilusório,

      Podíamos bem ter sido a história um do outro,... 


Como frugal fui ao explicar-te isto,

    Agora recordo que não havia hesitações,

Era seguir em frente,

A tua cabeça no meu colo,

Nada para dizer,....


Estas frases estavam como que preparadas para acontecer,

Por isso disponho as peças do destino na mesa,

E as coisas completam-se,

Tudo estava pronto para ser uma mandrágora que não envenenasse, ...


Mas é tarde para a conclusão,

Só sentir que seria uma obra em construção,

Se acontecesse 

2021/05/26

E é tão isto


 

Sedução constante e irreconhecível

 


Sei que está lá,

No mesmo sítio,

Aquela viela seca de loucura,

O curso de água que um Outono de chuva renovava,...


No plural do que se reencontra,

Só sobra a singularidade do que o olhar concede, 

E mesmo assim a fruição de tudo o que me eterniza, 

Está lá,

Como uma sedução constante e irreconhecível 

2021/05/25

Presença de espírito

 A coisa mais linda que tenho para dizer agora,...


É que não tenho coisas lindas para dizer!!!!!! 


O luto das palavras


 

A mesma coisa,

o luto nas palavras que não

contam,

um adeus anafado,

o fica cá estimulante,

com desejos de amor enlouquecido,...


tudo isto sempre que vem

mais saudade,

acabei de cortar uma rua,

para chegar mais rápido onde não

tenho de ir,

e sinto o cordão que,

indefeso,

ainda pendia do teu pescoço,

lembro-me do momento,

foi qualquer coisa enroquecida pela chuva,

desenhada com o acre da lama

no meio de nenhures,

tanto que só ficou o luto

das palavras,

e mais qualquer coisa por cima

do meio

2021/05/24

Decisões perniciosas

 


Soluções,

Era primeiro uma inverdade,

Mascarada de destino inevitável,

Depois a memória a que me agarrava de uma velha casa,

Que ao longe terá sido minha,

Ali repousei,

Me fiz homem inseguro,

Soube o que são decisões perniciosas,...


Mas havia sempre problemas,

Sei que o conversava com quem calhasse,

E havia infrutíferas permanências à luz da história,

Quase como se fosse ela a proteger-me,

Mas,

Soluções,

Sempre o que perdi 

2021/05/23

Língua morta

 


Do teu corpo eu nunca terei medo,

Mesmo que dele um dia penda toda a superficialidade da morte,

A mesma que de outras cartas por escrever,

Nos devolve a metáfora da solidão,

E de um fim que não dá conta certa,...


Nunca me amedrontaràs,

Digo-te,

Com a reflexão inocente de que já não temo o sexo,

Nem o cabelo espartano que ele sempre me pareceu ter,

E me tirava o sono só porque eu sou a locução imperfeita do anonimato,...


Aliás,

Fica definido,

O medo do teu corpo é língua morta, 

nos meus passos que escoltam o sorriso que ainda procuro 

2021/05/22

Pele cosida

 


A minha boca cosida,

Uma agulha grossa a rasgar a pele,

Trespassa a coragem,

Ponto por ponto desfaz os lábios de lamento,

Os olhos choram com mãos que depois,

Irão parar ao lixo por se sentirem inúteis,...


E há tantas palavras como verões que saltam,

Como todos os finais de dia enliado,

Que não vão dar a lado nenhum,

E nós à espera que um fado insultuoso regresse 

2021/05/21

Dor


 tem de doer,  

o que admitimos, 

o que deixamos fugir, 

a loucura indecente de dedos 

soltos, 

a incoerência de tudo 

o mais que não se explica,... 


assim como o vento, 

tem de doer, 

e já que se transporta 

para céu aberto, 

haja a fluência de línguas mortas, 

para que a fazer sentido, 

deixe de doer, 

por momentos que valham a pena

2021/05/20

Finitude da escrita

 tinha dado tudo por tudo,

 Se me perguntarem se tinha 
sido o suficiente,
 não... 

mas também nada 
mais haveria o que
 fazer,
remetia-me a continuar
 a escrever banalidades,
 dizer que o sol era finito, 
e o céu azul só porque
 sim,...

 e depois de me 
humilhar assim,
procurar conforto 
no redondo de sempre
do álcool... 

teria um dia isto de acabar,
 mas ao longe, 
por mim, 
a verdade 
já começava a doer,
 assim a noite o 
permitisse,
 com insufladas 
permissões de compromisso. 



2021/05/19

Nunca terei medo

 


Do teu corpo eu nunca terei medo,

Mesmo que dele um dia penda  a superficialidade da morte,

A mesma que de outras cartas por escrever,

Nos devolve a metáfora da solidão,

E de um fim que não dá conta certa,...


Nunca me amedrontaràs,

Digo-te,

Com a reflexão inocente de que não temo o sexo,

Nem o cabelo espartano que ele sempre me pareceu ter,

E me tirava o sono só porque, 

eu sou a locução imperfeita do anonimato,...


Aliás,

Fica definido,

O medo do teu corpo é língua morta, 

nos meus passos que escoltam o sorriso que ainda procuro 

2021/05/18

Auto-retrato poético

 


bom é despir 

o calor da dúvida, 

ao meio dia das 

nossas vidas, 

isso representava 

pouco menos que a dívida 

da moral, 

que a loja dos vícios 

encomendados,...


e tudo de repente 

se acizentava, 

havia fumo de cigarro 

gasto a insinuar-se 

parede acima, 

o corriqueiro das ambições 

de um poeta, 

cansado de esperar 

pela nova ordem dos indesejáveis

2021/05/17

Camisa pouco húmida

 Tinha metade de uma razão para se sentir vivo,

Estender a roupa molhada naquele sol que só escrevia o suficiente,...


Era preciso mais porque o mais só arranja o que as pessoas precisam,

Nunca lhes dá o que não precisam,

E as coisas fúteis,

Do domínio do irrisório,

Talvez completassem a farsa em que assentava os pés,

Todos os dias,

E o fazia caminhar,...


Limitava-se assim a esperar por uma camisa pouco húmida para vestir,

O dia só agora tinha começado



2021/05/16

Ansiedade

 Não sei se ainda me lês,

Sim tornei-me mais velho,

A emergência da realização pessoal

 esboroa-se como a ansiedade,

Mas estou cá,

Disposto a subir por um sonho acima,

E sentir-me inteiro,

No que a solidão permite distinguir,

E a escrita reutilizar,...


Estou cá,

Assim me queiram reanalisar



2021/05/15

Querer viver aninhado

 Vamos e vimos ao sabor de equívocos deterministas,

Posições indefensáveis sobre almas,

Desses e de outros que enchem os bolsos,

Com mãos cheias de nada,

E outros lugares comuns,

Que não cabem no aqui e no agora,

Em que esta luta se desenrola,...


Não é sobre nada este raciocínio,

Por nada espero,

Enquanto a sofreguidão de querer viver aninhado,

Faz com que queira acabar incólume,

A incerteza racionalista que este momento se tornou



2021/05/14

Mão



E a minha mão,

Uma coisa sem pele,

Parecia partir num trilho de indecisões, 

Incapaz de se partir, 

Para que assim se parisse em regeneração,... 


Pressupondo o choro, 

Não havia luz que a escuridão, 

Pudesse levar em transumância, 

Para longe de nós 



2021/05/13

Descomissionamento

 


Continuei a rastejar,

Fugia,

Fugia,

Até sentir que eles já não me queriam ver mais,

O caminho estreitava,

Era dia só lá muito ao fundo,

E a minha pele ia ficando pelo caminho,

Retirada pedaço a pedaço numa espécie de 

descomissionamento inusitado,

E inevitável,...


Foi só mais um romance dos que,

Consegui escrever na minha cabeça,

E nunca tive de terminar 

poema desfragmentado quando chove lá fora

 porque com trinta anos não sabemos

ver as legendas dos filmes,

e não há agonia que nos impeça de

amar,

aos trinta anos somos campeões de

mal-entendidos,

e tudo começa antes até de acabar,

somos resumos de nós mesmos,

obras de arte infrutíferas,

que ninguém tem coragem de expor

em qualquer lado,...


aos trinta anos,

lembrei-me de escrever quando tinha trinta

anos,

porque na fina insubmissão em que 

me encontro,

recordar tudo o que experimentei torna-se

difícil,

e anular tudo aquilo que me fez

nascer para sublinhados,

se calhar já não se justifica




2021/05/12

...sem que de uma flor


 

a tua condescendência, 

bem sei, 

divide-se por lesões 

musicais, 

palavras que ferem 

ao som de uma dedicatória 

de compromisso, 

de um amor de filho 

para mãe presente, 

e de um primeiro beijo clandestino,.... 


sei as frases de que precisei 

para definir, 

este como um poema neutro, 

números e números 

somados à fome de nunca, 

pensar como poderia ter-te, 

sem que de uma flor 

renascesses em lamento,... 


e aferi a porção que 

ficou da mesma pertença, 

sem que nada sobrasse, 

e tudo fosse medo

Keep your friends close, and your enemies closer...

 


O inatingível apoia o campeão


 

O Inatingível hoje dá três sem tirar

 


O arrependimento


Aquele era o meu arrependimento menos falado,

O mais soturno por assim dizer,

Era quase como um filho enjeitado,

Deixado para trás na maternidade com a pele encardida,

Os olhos indefesos de choro,

Aperfeiçoando assim um caminho de distância em relação ao autor ou autores da tristeza,

Que lhe seria inerente para toda uma vida de duração indefinida,...


Resolvi voltar atrás,

E procurá-lo por entre os meses de Novembro e Dezembro que se desprendiam de uma lição que ficava por aprender,

Remexi lages,

Páginas putridas de livros perdidos em bancos mascarrados de jardim,...


Não o encontrei,

Mas uma pequena nota de rodapé,

Aos pés do busto do maior poeta daquela cidade,

Fez-me crer que ele ainda poderia existir,

Algures entre os espaços anulados deixados entre o tempo e as imperfeições que ele deixa para trás,

Acho que fiquei feliz com o caminho de regresso à normalidade

2021/05/11

Puccini


 Não sei o que me levou lá,

Se a luz que emanava daquelas casas,

Ou a própria imprecisão do meu nome,

Silva não quer necessariamente dizer nada,

Mas ao mesmo tempo dá-nos uma pele de couro,

Capaz de escorrer sangue e fingir que tudo está igual,...


Só sabia que queria fazer filmes,

Dizer às pessoas como me chamo,

E sentir parabéns a cada momento,...


Mas já é tarde,

A vizinha da frente ouve puccini,

E eu adormeço indissociável do barulho do ar que me assusta 

Ópera vazia

 


Se calhar dois momentos,

Construídos em redor do sol,

Com uma ópera vazia e cheia de espíritos arrependidos,

Não representam mais que a fração de odor a saudade,

Que deixamos na partida,...


Somam-se imprevistos,

Sentimo-nos de todos,

Quando a lonjura que prescutamos não é de ninguém,...


Assim como a volúpia,

Uma redação a punho solto permanece amarrada,

E assim entendo esta reflexão,

Teologicamente alienada 

2021/05/10

Esta assenta que nem uma luva em tudo

 

““To gain your own voice, you have to forget about having it heard.””

— Alan Ginsberg

Andrajosa retidão


 


o desejo de nunca mais inocentar 

ideias,

só razões indecentes que pervertam versos,...


bem avisado fui,

de que muito jazz aliena

as vontades,

torna indecifrável as despedidas,

quando se sai de um bar e 

nos dirigimos a tempo até aquele ponto

trémulo,

que parece despenhar-se do céu,...


até o trocaríamos por um copo meio

cheio de perdição,

e uma mão no ombro,

que diga que tudo nem sempre

poderá ficar bem,

mas há roupas escuras para vestir,

que nos fazem aprofundar a

viela até à próxima cona

2021/05/09

Saída sem acordo

 mandaram-me embora,

o jornal estava por ler,

havia comida semi-estragada no prato,

em cima da toalha florida da mesa da 

cozinha,

um cheiro infundado a fim de tarde

invadia-nos as narinas,

e só me lembro de um desconforto,

ficar a um canto, 

sem saber o que dizer,...


acusado de uma renovação anormal

de ideias,

de querer ser jurista das minhas próprias causas,

foi de comum acordo que saí,

lá fora o sol ardia na pele acomodada,

e deixava em desconforto o

que pudesse advir do futuro




2021/05/08

Era este o nosso trabalho

 


era este o nosso trabalho, 

percorrer muito chão,
levantar as animosidades,
ocultando o preço das falsas
questões,
dos parágrafos sem fim,
que só de forma anómala acrescentavam
algo ao panorama,
fosse do que fosse,...

não explicavamos os sorrisos que 
ficavam por desenhar,
só do choro nos escondíamos,
o mesmo choro dos dias de chuva,
e que connosco caminhava sem destino,
à procura da próxima coisa
que consumir,
da próxima 'trip' de qualquer resto,...

era este o nosso trabalho,
fosse onde fosse,
íamos agarrá-lo até que
se esgotasse

2021/05/07

Suspeita só e inutilizada

 Resolvido,

por resolver, 

suspeito avisado de suspeitar,

tanto amor,

arrastado tudo estava até

termos braços,

suspeitas sequer de amor,

que largue o desamor,...


tudo é confuso,

atirava-te até a precisão insuspeita

de um mal entendido,

para sublinhar o que resolvido está,

e anotar o que falta,

sobre o tapete de casa,

faz falta para que

nada sobre que beber,

que comer,

só amar




2021/05/06

Trajeto de uma mão

 eu poderia ter respondido

de outra forma,

a minha mão descia pelo imperdoável,

acima da honra que se parte,

não saberíamos onde poderia

parar,....


o resgate que te prometi,

não se traduzia em linguagem,

a sintaxe do silêncio encaixava

melhor na linha do que havia,

naquele momento,

sem que o futuro fosse uma

imposição





2021/05/05

O bruto

Quem diria que o bruto fui eu,

Tantas moedas espalhadas naquela mesa de três pés,

Nem quis pagar,

Só sair e começar a caminhar ébrio,... 


Ou assim o parecendo,

Com um odor de alecrim a envolver-me,

Até um local em que me pedissem uma leitura cuidada,

Dedicada,

Em que a pupila vencesse sobre os nomes das ruas de  criadores anafados,

E que perderam o jeito de se humilharem perante as pessoas,...


Claro escuro, 

Um ator arrependido que se sente bem no arame, 

E foge à loucura enquanto representa para o pôr do sol, 

Concluí que na prática fui mesmo eu o bruto, 

Nem que seja por me sentir em divida 






2021/05/04

Formigas que eu tanto abominava

 


Tinha-me habituado a falar das pessoas,

Quando elas lá fora,

Se assemelhavam às formigas que eu tanto abominava,

Pensava isto sem sequer as ver,

Mas tudo o que segue encarreirado para um destino desconhecido,

De mim sempre mereceu desprezo,...


Havia um dia de chuva atrás de um dia mais ou menos,

Para depois vir outro dia de chuva,

E eu nem tinha o que comer,

Só pensava,

Azulava as minhas mãos,

Com o poder que tinha de cortar a circulação do sangue nas extremidades,

Sempre que pensava de mais,

Mas não conseguia parar de o fazer,...


Conseguia sequenciar uma boa série de minutos,

Basicamente a conjugar o verbo abominar,

E mantinha as mesmas queixas dos dias que não fazia isso,

Continuando a engordar,

Acentuar os meus problemas circulatórios,

E retornar sempre ao pensamento nefasto e gratuito sobre formigas,

E às semelhanças que inexplicavelmente elas conseguem ter com as pessoas 

2021/05/03

Inatingivel 2021, Máquina do Tempo

Inatingivel 2021: doença da cabeça que encolhia: e as suas coisas arrumadas em filazinhas, sem qualquer ordem específica, apenas separadas consoante o que o livre arbítrio mandava,... a...

Trato inseguro

 


Lembras-te de quando nem os olhos,

Nem os dedos que se desabituaram de acompanhar corpos ausentes,

Estavam lá no amanhecer?,...


A interrogar friso, 

como sempre fiz, 

o que precisa de ser dito,

E há tanto frio, 

Que pinta os frisos fantasmagóricos do nosso bairro de sempre,

E confirma este anseio,...


Ao longe, 

ouço os pais que regressam sem nada, 

a lares vazios de alegria,

Um rio que prova a existência de algo, 

para lá do último suspiro,

Ao caminhar bacilento para onde ninguém sabe,...


E tudo se esvazia das horas que se despem de sentido,

Ao menos partilha comigo esse verso de música resumida,

Que te pende da lapela 

2021/05/02

A sorte tem de ser inquieta


 Havia tudo o que não podia calcular,

Nem dizer,

Coisas fortuitas,

Corruptas mesmo,

Pensei em não continuar,

Contar em todos os dedos dos pés a antecipação da minha fortuna,...


Mas para resultar,

A sorte tem de ser inquieta,

Imprevista,

Uma revisão do choro inconsequente da juventude,

Alienada ao sol que aparece e desaparece 

2021/05/01

Maiando a 21 de fevereiro

 


Arrumou todas as coisas para partir. Nada mais a agarrava aquele lugar. As galinhas, como serões mal passados em família, pareciam querer indagar a razao, espreitando pelas redes amarelecidas das duas capoeiras.

Tinha duas vacas, e vinte ovelhas para entregar na aldeia, que era a umas boas duas léguas. Amanhou três pedaços de pão envelhecido num saco de pano, uma selha de água cheia até meio, para ficar fresca e deixar a voz pronta a disparar caso fosse necessária. Vestiu as calças que tinham sido do pai, os sapatos do irmão, cardados e russados, que ele lhe tinha deixado antes de ir para além mar. Pegou no apito de cana, que guardava na gaveta de cima do móvel da cozinha. Servia para impedir o tresmalhe de alguma ovelha, caso ele acontecesse. E saiu antes que do céu de zinco começasse a brotar a chuva que se esperava.Não sabia o que a podia esperar. Só tinha de sair dali... 

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