2020/10/31

Maneira silenciosa

Chegada ao teu rosto,
Esta era uma chama sem história,
Quase perfumada,
Que não gerava expetativas,...

Esperava-se por um fogo que ajudasse a embalar livros antigos,
E precisasse de alguma água para que as pessoas pudessem evoluir,
Deixassem de considerar imoral as faces imprecisas de um amor que se exprime por si próprio,
Sem lufa-lufas impessoais,
Apenas com roupas de rubras gargalhadas que deixassem ao expoente inalcancavel,
Tudo o que há por explicar em textos monolíticos como este,
Sem fendas,...

Percebendo que seria um rosto adormecido,
Aligeirado de forma quase socrática no escuro,
Acomodo-me num mundo acamado apenas pelo atraso nas experiências,
Aclamado à minha maneira silenciosa



2020/10/30

Dispensava-se a poesia

Nenhuma palavra,
Nem sequer o jeito efeminado de qualquer palavra,
Expurgando da comparação a pele acintosa,
Poderia refazer o que estava pensado,
Eram dias de anormalidade perfumada,
Com todo o sentido inovador que isso poderia trazer,. ..

Dispensava-se a poesia neste relato,
Sabendo-se que uma mulher inesperada iria surgir,
Com notícias de partida,
E não muitos afloramentos ao conceito de felicidade,
Diria ter deixado para trás outro livro de memórias,
Algumas estórias por acabar,
E principalmente um polícia de costumes que lhe tinha marcado a pele,
Conforme era visível,...

Tudo estava pronto para que as coisas recomecassem,
Agora com especial cuidado para que esta ficção aguentasse os testes de racionalismo



2020/10/29

Ponderado

Desenhei os meus falhanços,
Contei comigo de formas que nunca julguei possíveis,
Tudo ficou escrito como me pediste,
Ponderado,
Livre de figuras de estilo,
Num português que sobrevivesse a si próprio,
Antes de morrer de velhice no canto de um papel gasto,...

Mas nada parece ter resultado,
A voar,
Este era um idioma infértil,
Não iria servir para o que me propunha,
Esta poesia a continuar,
Teria de ser mais desabrida que contida,
Menos desafortunada,...

Seria altura de refletirmos juntos,
por um novo par de ilusões


2020/10/28

Lisboa a salto


 Rua do ouro,

Setenta e dois,

Junto à árvore morta, 

À entrada do talho,

Um livro perdido aberto na página rasgada,

Com um homem desorientado a fixar as letras,

Está muito vento,

Ninguém se apercebe do tempo envolvido em jornais, 

Rebolando pelas ruas como um cavalo sem freio,

E sem dono,...


A possibilidade de redenção é  um cenário aparente,

Mas perde força,... 


Rua do ouro,

Cem,

Morreu uma mulher sozinha,

Chorou em seco anos a fio,

Até o ar se esvaziar,

Como um balão que perde o contorno,

E desmaia gradualmente


2020/10/27

Campestre alusão

 Nada que se possa dizer afina o percurso,

Ou desvia a inocente afirmação de recusa,

Seremos mais que a menor ilusão de espaço,

Tanto como a poeira do orvalho que desilude a rotina,...


Amanhã,

Tanto mais se houver amanhã,

Reconstrói-se este caminho com campestre alusão à perda,

Nós e a escrita que acode a este formato de loucura,

Perdidas tantas vezes como as que ousamos ganhar,

Ficaram as dores de tanto querer profundamente o amor 




2020/10/26

Picture and diccionary

 


Phone booth

 Falava ao telefone como se do outro lado, 

o tempo estivesse parado,...


Percebia como Anotava os receios, 

os acabrunhamentos,

 à falta de melhor conceito... 


Não havia horas, minutos, indecisões 

de morte, versos de vida,... 


Só o silêncio possível,... 


Defendido nas reticências, 

fazia o mais com o menos... 


A força advinha das loucuras socorridas e inodoras

2020/10/25

Fuligem

 Do lado que vejo melhor,

A manhã tira sempre o mesmo casaco,

As fases indistintas dos medos

 das pessoas também,

Apercebo-me da pouca solução 

para a média noção de longe,... 


Levanto-me na parte segura da cama,

A saber que nada ter para dizer,

É o mesmo que refrescar para morrer,... 


Emborco a fuligem de sempre,

E saio com um pé mais curto que a criação,

Rima perdida atrás de rima encontrada,

A minha cabeça é sempre a mesma,

Encostada aos lábios,

Diferente das performances,

Indistintas de tudo em cima do qual voltarei a dormir 




2020/10/24

Botão

 no meio, 

um botão esquecido, 

faz frio, 

e ao lado do 

medo, 

ris o suficiente 

para que me esqueça da frase,....


arranca, 

a pausa certa 

até ser noite, 

e em nenhum lado, 

se as folhas aqui 

forem mesmo brancas, 

está dito que te mereço,.... 


um botão, 

e o silêncio 

encarnado que se descarna




Ângulos mortos de solidão

 So agora preciso que me abraces,

Dantes,

Esperava que a terra aguardasse pelas minhas deceçoes,

E era suficiente, 

para suster qualquer resvalo de noites sem amparo,...


Agora é diferente, 

Deixei de saber somar ângulos mortos de solidão, 

E só sobra a mesma ladaínha de força desmaiada, 

Os refúgios nos livros sem mensagem, 

E com mais ou menos os mesmos números de ansiedade,.. 


Se me restar só um abraço como teste, 

Se calhar aguentarei






2020/10/23

Extremos

 Não me sinto obrigado 

a escrever poesia que toque extremos,

Nem se o transporte me 

chegar todos os dias atrasado,... 


O limite dos números 

indefinidos da minha memória,

É só meu,

Sem que o cenário de trespasse

 sequer se coloque,...


O recurso único à escrita sinto-o 

nas frases esdruxulas,

Na acentuação própria 

de medos corpóreos,

Que por vezes citam 

autores por si só,

Alinhados com o enquadramento 

político da época,...


Só entende a minha escrita o ser humano 

preparado para relegar o sofrimento,

Para o altar,

Onde o mesmo pertence 




2020/10/22

Hora de almoço

 

Importunações

 


Resiste,
Não há mais por onde efetivar, 
Construir importunações ao desejo de fechar os olhos ao desmando,
Aos casacos desabotoados do conformismo,... 

Há países de todas as cores, 
E cidades a quem faltam sons, 
Formas abjetas para instar ao felacio invertido,... 

Por isso resiste, 
A toda a hora vale a pena desmatar o que virgem está, 
E guardar o melhor da luz

2020/10/21

Início do desânimo

 Nunca se sabe se o desejo do dia de hoje,

Será o último,

Ou o primeiro de uma orelha de novos sons,

De outros sonos,

De descansos que pesam tanto no leito de suposições em que nos habituamos,

Ainda a descansar,...


E eu renovo uma anotação infiel para com o ar corrente,

O peso incolor do que nos completa,... 


E tudo porque um grito,

Citando a poesia portuguesa do início do desânimo,

Fica sempre melhor do que um beijo apaixonado de reconhecimento 




2020/10/20

Peso do horror

 Não foi por acaso ter escolhido estas palavras,

Como um paliativo,

Vestida com um vestido tradicional,

De mãos enroladas a todas as crianças possíveis que a teu lado cabiam,

Falavas com os olhos,

Eu via-te chorar vendo-te sorrir aprumada,

Para que quem por ti passasse se sentisse feliz consigo próprio,

Saindo e reentrando na própria vida,

Com o ofegar de uma pausa numa sentença de morte,...


Mas porque não falavas,

Me dizias a plenos pulmões o quanto estavas infeliz,

E que esta era a história de quanto uma flor pode pesar mais que um horror,

E em cima de um horror podemos dormir até para sempre,

Por sobre milhões de mantos de flores senhoriais,....


Se não me respondes,

Numa carta enviada ao sol,

Diz-me como influenciar a rigidez da ausência,

Inconstante e inconsequente é este afastar para o abominável 




2020/10/19

Vento argumentativo

 


temos de combinar qualquer coisa,
entre o que nada se faz,
tudo o que cheira,
e a porção escondida de
uma coisa mal resolvida,...

escolhe o sítio se quiseres,
por mim tem apenas de
ser arejado o suficiente,
para se sentir a brisa 
a contar-nos coisas novas,
enrolada nos intervalos dos
nossos rostos cansados,....

acredito num vento argumentativo,
talvez como expressão máxima
do impressionismo da natureza,...

e no regresso a casa,
depois de termos esgrimido tanta coisa
sem importância,
como a cor do adeus,
as ilusões que o tempo nos
parece dar,
mas que mais não são do
que sentenças 
encapotadas de imobilismo,
depois disso tudo,
a espera de amanhã haver
mais,
será agradável,
assim acredito

2020/10/18

Irascivel

 a ousadia leva 

ao irascível, 

às coisas sem tento,

 e tanto que se me oferecia 

dizer das reclusões 

sem tempo, 

e dos livros comidos 

nas pontas pelos vermes,... 


tudo o que vimos 

e esperámos cair em pé, 

veio de ‘chofre’, 

derramar-se aos pés do tempo, 

deixando-o sem idade, 

sem expetativas,.... 


irascível pois o 

que deves ler no rodapé 

deste galicismo, 

tudo o que te mando, 

defraudei as pessoas 

na Place Pigalle, 

enquanto chovia, 

e eu morria aos bocadinhos, 

acobardando-me




2020/10/17

Incómodo feito poema

 


Sou o cigarro que nunca fumaste, a frontalidade anónima que te assusta, às duas melhores razões para a loucura, respondo conforme queiras, com o silêncio possível, o barulho retalhado, dificil de discernir, e que sei que te assusta,.... ao menos que a pena solta, escrever assim linhas sinceras, nos faça adaptáveis um ao outro,.... porventura o mais longe que rescindo esta vontade de magoar, seja o fim abrupto de um incómodo como este, feito poema

2020/10/16

'tum-tum-tum'


 

achava melhor esperar,
sempre aquele 'tum-tum-tum',
que lhe descascava os ouvidos,
com a segurança imposta por 
a mesma distância que a fazia chorar,...

vestido roto,
transparência aos olhos de quem queria,
remoía nas músicas certas apenas
porque sim,,...

e sem mais para dizer,
achava sempre ser melhor
esperar,...

existia uma nova geração de 
criação literária,
que a assustava,
com pé-ante-pé,
antes da loucura,
e à porta de qualquer coisa
inofensivo,
mas perigoso,
,
esperar,
sempre alongava a vontade
ignóbil de falhanço

2020/10/15

Um dia gostava de saber escrever assim

 

Um poema de Daniel Faria

O nome parece a infância.
Quando na velhice é termos vindo
Sem pressa

Para dentro
Do nome se esvazia o corpo quando o corpo cai
É um fruto.

O nome é ainda
O modo como chamas.

O nome é a arma contra mim. O maior perigo.
Com os teus lábios podes destruir-me.


em Explicação das Árvores e Outros Animais, Vila Nova de Gaia: Fundação Manuel Leão, 2ª edição, 2002,  p.53

Verdade combustível

 Via mais do que aquelas resenhas de passado escondidas nos sorrisos,

Sentia que tudo ardia,

Como se deixassem mortos infelizes a cada passo,

E vivos sem resposta em todos os suspiros,....


Não fazia sentido, 

É certo, 

Mas não tinha de fazer, 

Só se anulava as possibilidades de falhanço que nos eram trazidas, 

E depois renunciava-se a tudo, 

Sem autoridade, 

E sem latitude de princípios lacustres





2020/10/14

Portugalidade Q.B.

 há café quente 

na mesa da cozinha, 

dois ou três pães 

envelhecidos, 

e um naco de chouriço, 

com uma lonjura 

daquele Campo de letra grande, 

que todos temos no sangue,.... 


sombra suficiente 

e ao mesmo tempo 

anuência para que continuemos, 

e eu nem sei a fazer o quê,...

 

há ali ao canto, 

escondido quem sabe, 

um bule de chá, 

penso que será o 

adequado para parar, 

e reflete-se sobre tanto 

nesta vida, 

talvez menos sobre 

a dor de refletir,.... 


se quiseres, 

enquanto o aconchego de 

ter estas peles existir, 

podemos fazê-lo




Poema anulado

 com a correção que me deste,

parecia-me ter

 ficado bem

esta resposta a mim mesmo,...

sempre acentuaste a 
veia inaudita deste narrador,...

quis-me assim mal vestido,
impoluto,
até como que a cheirar mal 
das recordações
 mal resolvidas,
que ostensivamente me circundavam a boca,
dando-me um ar impressionado,
e talvez um pouco frágil,...

respondi-te com várias 
reticências,
e uma nota de rodapé sob
a forma de uma faca,
de lâmina irregular,
a minha ideia seria que
lesses tudo isto como
uma carta,
não necessariamente de despedida,
mas antes como uma 
sucessão de instruções,
inflamadas,
que sabia poderes transformar
numa Divina Comédia dos tempos
inesperados




2020/10/13

Entre mesas

 Joga tudo,

Entre as mesas,

Lábios de purpurina,

Considerações desnecessárias,

Se for para tudo,

Até revoltas mal resolvidas,...


Por entre mesas,

A batota favorece,

Não magoa ninguém,

E tudo jogado,

Alumia rostos,

Por entre mesas,

Como se o esclarecimento não tivesse cheiro




2020/10/12

Alimento para a alma

 

cuidado onde tocas, uma coisa é o céu, e o divino que ele encerra, outra é vir sempre à mesma hora, com o mesmo intuito, e beijando a mesma boca, para participar numa vetusta denúncia por procuração,.... apelando ao sentimento, as portas de luz abrem-se o suficiente para escapares desta rotina, pelo que amanhã há mais desta fornada de alimento para a alma

2020/10/11

Grito

 é o suficiente dizeres que me travisto de amor, 

que não reconheço as precisas medidas do medo, 

só porque me mandas afastar dele,....


e há tanta mentira nisto que arredondo com letras falsas, 

se me disseres que entendes, 

também cheirará a falso, 

com o mesmo cheiro que encontramos nos negócios de flores, 

junto aos cemitérios, 

quando as pessoas se recordam dos mortos a fugir,.... 


 e há o relógio da hesitação, 

e uma pequena caixa com anotações de todos aqueles anos que passaram na asa de um pássaro, 

e há a água apodrecida que sobrou do sexo que fizemos em sonhos,.... 


e um manuscrito, 

uma coisa tosca, 

feia, 

aparada nas pontas, 

a primeira manifestação de liberdade que caguei em décadas, 

e estava perdida não sei onde, 

nos cantos por onde não sei onde fecho os olhos só o tempo suficiente,.... 


há tudo quanto não queiras, 

porque o que quero não tem cor, 

nem dor, 

só lousa para esboçar a giz o chiar desta dor que me acabrunha





Concha

 Uma porção,

As mãos escavadas pela demora,

Encerradas em concha,

Refletindo a luz de porcelana que a medo se revela,...


Esperava-se nada,

Tudo ao mesmo tempo,

Mas o suficiente para que só fosse possível acumular uma porção,

De lustro,

Amor,

O que fosse,

Mas pouca coisa desde que dita pela boca do silêncio,...


Observava a introspeçao perfeita ao longe,

Refletindo sobre o muro do que se lamenta,

Com a religião inodora do que deixou de se acreditar 



2020/10/10

Desejo de mulher e homem



 lascivo,

fracassado como ideia,

correto como conceito,

olhos cruzados com a sombra

dos pés,

em ângulo morto com as pernas,...


tanto desejo,

de arma enfiada na boca do silêncio,

tanto desejo desenhado,

irreconhecível,

com pernas de mulher falhada,

e olhos de homem moribundo,

tudo refeito e já,

há tempo a tuitar,

ditadores sozinhos que

discursam para a frente,

e consciencializam da mesma

forma como se entrelaça esta paz,

engarrafada em seco

Chama-se ver mais à frente

 As boas maneiras estragaram o cenário,

Ela queria atraso no período menstrual,

Que fizessem pouco do seu lado incauto,

No fundo adiantar-se à concorrência,

Especificando favores,

Deixando recados aos interessados,

E sobretudo que lhe pedissem o favor de ser inocente,...


Só o saberia com aquele truque dos lábios,

Humedecidos o suficiente até parecerem início de primavera,

E depois desfolharem num dia quente de meados de Maio,

Ásperos para acolher masculinidades,

Sem deixar ressentimentos,... 


Entretanto era hora de voltar a escrever bonito,

E regressar aos caracóis dos dias que se contam a si próprios 



2020/10/09

A cobardia prende

 Apaixonei-me por estar 

escondido no espaço entre as palavras,

Aqui não há sol,

O tempo esgueira-se 

por dentro de garrafas lascadas de pinga,

Onde encontramos homens 

presos na sua cobardia,...


As mulheres são mudas,

E refletem sobre os seus medos,

Sem que falte mais nada 

para que ao lermos poesia,

Se pare um pouco 

a redutora manifestação 

de onanismo da solidão,

Que nos faça sair e enfrentar 

a luz dos dias presos na 

maldição do tempo,...


Se calhar deixo-me 

ficar aqui mais uns momentos 



2020/10/08

Parabéns à senhora Nobel



Louise Glúck


 Aboriginal Landscape

You’re stepping on your father, my mother said,
and indeed I was standing exactly in the center
of a bed of grass, mown so neatly it could have been
my father’s grave, although there was no stone saying so.

You’re stepping on your father, she repeated,
louder this time, which began to be strange to me,
since she was dead herself; even the doctor had admitted it.

I moved slightly to the side, to where
my father ended and my mother began.

The cemetery was silent. Wind blew through the trees;
I could hear, very faintly, sounds of  weeping several rows away,
and beyond that, a dog wailing.

At length these sounds abated. It crossed my mind
I had no memory of   being driven here,
to what now seemed a cemetery, though it could have been
a cemetery in my mind only; perhaps it was a park, or if not a park,
a garden or bower, perfumed, I now realized, with the scent of roses 
douceur de vivre filling the air, the sweetness of  living,
as the saying goes. At some point,

it occurred to me I was alone.
Where had the others gone,
my cousins and sister, Caitlin and Abigail?

By now the light was fading. Where was the car
waiting to take us home?

I then began seeking for some alternative. I felt
an impatience growing in me, approaching, I would say, anxiety.
Finally, in the distance, I made out a small train,
stopped, it seemed, behind some foliage, the conductor
lingering against a doorframe, smoking a cigarette.

Do not forget me, I cried, running now
over many plots, many mothers and fathers 

Do not forget me, I cried, when at last I reached him.
Madam, he said, pointing to the tracks,
surely you realize this is the end, the tracks do not go further.
His words were harsh, and yet his eyes were kind;
this encouraged me to press my case harder.
But they go back, I said, and I remarked
their sturdiness, as though they had many such returns ahead of them.

You know, he said, our work is difficult: we confront
much sorrow and disappointment.
He gazed at me with increasing frankness.
I was like you once, he added, in love with turbulence.

Now I spoke as to an old friend:
What of  you, I said, since he was free to leave,
have you no wish to go home,
to see the city again?

This is my home, he said.
The city — the city is where I disappear.

Homem a ver a última tentação de Cristo

 Imploro-te que me vejas como sou,

Eles não merecem a formação lateral de um desespero,

Nem tão pouco que se grite aos  ventos, 

pela mudança que nunca vai chegar,... 


Que me sacrifiques pelo que eles nunca serão,

E onde quiseres subirei,

Resvalado no que só eu vejo para eles,...


Não mais a afonia da distância que fica por explicar,

Nem toda esta criação literária sem cheiro,

Leva-me,

Eu sou só a reconsideracao de todos estes defeitos 

2020/10/07

E o sentimento de má digestão é...



 terror, 

um sem 

número de versos decepados, 

sem membros 

que nos assustem, 

e mesmo assim a fervença 

de tanto tempo 

deitado fora,...


e de lado escreve-se, 

desinforma-se, 

contribui-se para 

a ruína do mundo, 

e em tons de 

carmim 

o desejo desdobra-se 

em medo, 

e o medo inicia 

a fotossintese da ruína, 

e na ruína nos deitamos,... 


sem que o lugar comum 

de não haver amanhã, 

seja fortuito, 

efetivamente consolidado,... 


mais um anoitecer, 

é esta a minha, 

a nossa memória de 

fruição do fim dos dias, 

assim se queira desenhá-la 

a firme negro

Precisa história de ter esperança

 Alfaiate de sumidades,

Estava assim chamado por arredondar estes dias da mesma forma,

Como as pessoas tivessem palavras embelezadas por bainhas,

E fosse da infinda anotação das falhas,

Que aquele e o outro cometem, 

Que a precisa história de ter esperança se fizesse,...


Ao fim deste dia embelezei a mãe do silêncio,

E entreguei-lhe como prova de que pelo ar se viaja melhor sozinho,

Do que se morre




2020/10/06

Encontro fortuito

  Ia sempre ter com ela ao mesmo sitio, o desafio galopante que se constituía aquela livraria, onde as pessoas se reinventavam, e onde víamos tantos dos escritores que ambos gostávamos a fazerem-se passar pelos anónimos que nunca foram, e os odores de redenção que aspiravam a ser.

Não dizíamos palavra, e tentavamos sempre nem sequer confrontar quaisquer frustrações que por ali houvessem.

Sentados no chão frio das lages religiosas que os nossos princípios políticos abominavam, só era possível jogar qualquer coisa sem nome,... Talvez fosse uma sueca de nomes, um domino de idades gastas pelos medos, qualquer e todas as coisas anotadas em pequenos papéis rasgados que sempre haviam nos nossos bolsos, à espera de um afago, de um casamento de letras,...

A despedida surgia quando nada mais se previa dizer. Nada era quente o suficiente para que se justificasse ali ficar. Partiamos separados, sem certezas de que o conjunto imperfeito que constituíamos se pudesse repetir. 


2020/10/05

Quarentena, anyone?

 





Noite dos Mortos Vivos (1968), George A. Romero




Republicando o ser

 Meticuloso sempre,

Desviando o polegar com que tapas a confissão,

Se calhar surge a voz,

O que arranhado não me farta na solidão,...


Reparei que aí descreves o que já pesámos,

Que surgiu sem a marcenaria de um sorriso,

E com todos a descrever os finais que anseiam,...


Sim,

Por meticuloso me tomo,

Espero que agora entendas 



2020/10/04

Martim, rapaz robustecido

 

para martim, rapaz robustecido e anuente com a frequência das coisas boas na terra onde vivia, esta era uma questão de vida ou morte. Vestido de afrologia declarada, com calças de sarja, e uma camisa de ramagens de palmeira, que o declarava fonte de alegria no taciturno dos dias que ali demoravam a passar, acreditava que ela havia de se recordar,...
a menina era equilibrada. Permanecia oculta quando nas redondezas, tudo parecia descender em respaldos de loucura, e quando aparecia, fazia-o com encanto. Pé ante pé, de cabelos soltos, ligeiramente enfeitados com a cacimba das manhãs que desabrochavam em vida aos primeiros desembaraços de sol.
Pelo sim, pelo não, passou junto à entronizada casa de santos onde ela morava, havia pouco tempo. Esperou, esperou, e quando já parecia que nada ia ouvir, uma música insinuante, desordenada, mas que agarrava a pessoa por cada osso do corpo, saiu pelos arrabaldes da casa, até que lhe tocou os tímpanos de forma desempoeirada. Havia ali um descaramento difícil de descrever, mas que sabia bem.
Para Martim, rapaz robustecido e que aguentava bem cada remoque da existência, aquilo pareceu-lhe um convite a qualquer coisa. Deixou de ser uma questão de vida ou de morte, para frutificar um desejo de ali estar. Um dia, dois sóis, o tempo que fosse. Sabia que ia demorar, mas queria ter a certeza de que ela tinha mudado de ideias. Que o iria querer quando as coisas assim o permitissem. Quando o arroz passasse a ser mais barato que a água, e o perfume pudesse caber nos bolsos do povo.
Entretanto, enquanto esperava, lia um pequeno livro de cordel que encontrou escondido, no meio das ervas. Falava sobre um velho que se tinha despedido dos filhos, para ir morar para junto de uma fábrica....

2020/10/03

Pedra de sexo

 Mas se tivesse a tua fé,

O que se quisesse e mais uma pedra de sexo,

Tudo que ardesse e a lonjura de um par de coxas,

As tuas,

Como se um farol fossem na tempestade efémera do que choro,

Sem confessar,...


Ali nunca mais seria a noite que me propões,

Sendo que a repousar no que por aqui te exponho,

Está o claudicar possível do que já não sei criar 



2020/10/02

Idealismo, idealismo, idealismo...

 “The only way to deal with an unfree world is to become so absolutely free that your very existence is an act of rebellion.” 

↠ Albert Camus

Método científico

 Que assim como eu mostrasse fascínio pela resolução,

Não deixar a hipótese a meio,

Testar,

Influir nos cenários de amenizacao de um problema,

E depois trabalhar para adiar,

Adiar o inevitável,...


Pensar que o romântico atrasa,

A probabilidade admite o erro,

E que poderia ter sido aprazível termos esgotado cenários,

Admirar a localização desta cidade,

Com a coragem de a deixar,

Com as esporas do ódio bem cravadas no chão que se viesse a palmilhar 



2020/10/01

Word of the day


Outubrando ainda em agosto

 

em qualquer outro sítio,
com quaisquer outros argumentos,
faltam mais tardes de sol
como esta que se esvazia,
tanta gente a refletir,
tantas ideias que se esfumam,..

a propósito de desespero,
enumero as vezes em que
aludi às pequenas coisas,
que de ti se ligavam,
umas às outras,
até fazer uma espécie
de buraco concêntrico no céu,
e de lá voltarem para o meu regaço,
onde em sentido figurado,
cabem as falhas de todo
este discorrer de conceitos,...

e mais qualquer coisa
por dizer,
em qualquer outro sítio,
que não aqui

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