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2025/02/15

Um entrelaçar de dedos lento...

 Mostravam compromisso,

Um entrelaçar de dedos lento mas intenso,

Corpos que se aproximavam lentamente mas com a fidelidade provisória possível,...


E o olhar,

O olhar preso na rebentação daquele mar de estanho,

Refletido de forma violenta e breve num céu arreganhado de inverno,

Prestes a desabar com a imprevisibilidade que se esperava,....


Mas os dois estavam imóveis,

Apertando a espera em corpos apesar de tudo tranquilos,

Porque contavam um com o outro 


                                                                              Tirado daqui

Pablo Picasso
Pai Natal
de 1959

2024/11/22

O acordo


                         Tirado daqui

Um longo aperto de mão selou a concordância entre os dois homens. Insegura, sem grandes fundamentos éticos ou legais, mas ainda assim um acordo. Pouco ou nada se conheciam. Cada um tinha as suas raízes muito longe do local em que agora se encontravam. Um, o que aparentava mais segurança de si próprio, tinha nascido no anonimato. Cresceu com pais inocentes, desligados da idiossincrasia da vida na modernidade. Alcançou um sucesso gradual a expensas próprias, e foi viver para junto do mar, oferecendo a si próprio um sonho adiado que mantinha desde crianca. Do outro pouco se sabe. Apenas que apoiava um homem que o tinha perfilhado em jovem, por ter construído com ele pontes semelhantes ao amor. Conseguiu um caminho de relativo sucesso com esse relacionamento, e organizou uma família. Uma mulher que aprendera a amar, em bases que nunca conseguiu explicar, e uma menina de outro ponto do mundo. Que adotou por, escondia esse segredo dentro de si, parecer bem e ser um ato que poderia ajudá-lo a curto prazo. O caminho de ambos cruzou-se à distância. Um tinha bens materiais que o outro cobiçava, e depois da formalidade dos primeiros contactos, tinham-se encontrado pessoalmente pouco antes daquele dia. Combinaram novo encontro para selar a venda de um bem sem importância, e a partir daí permitiram que algo ficasse escrito dentro de ambos. Sem saber quanto tempo mais iria durar, nem em que moldes. Mas a certeza estava lá. E os olhares de ambos aceitavam mutuamente o cultivo desse compromisso de estabelecer pontes em comum, para um futuro desconhecido. Mas isso não interessava naquele momento. Só o facto de terem de se abrigar algures de uma chuva inconveniente que entretanto tinha começado. 

2024/10/15

E os gritos de noite...


                                                                 Tirado daqui

De pernas escurecidas,
Braços trocados,
Sentou-se ao longe, 
Num recanto da sala perdida da casa mais aligeirada que havia,....

A sua intenção era recomeçar,
Dizer de si mesmo que já chegava,
Não havia fantasmas se o homem não quisesse,...

E os gritos de noite são casualidade,
Assim como chorar sem motivo,....

Pensar doía, chegava-lhe em remanso,
Mas tinha de ser,...

Lá fora só esperavam por si mesmos,
Cachorros doentes e mulheres mortas sem saberem,...

Ele teria de continuar ali

2024/09/10

Explico aos soluços

 Falta qualquer coisa ao ser que lamenta,

Uma precisa premissa,

Dois lamentos,

Um dia a começar persistente,...


Qualquer coisa,

Não sei descrever,

E o que mais voltar de um dia,

Dificil de entender,...


Explico aos soluços,

Isto que me intriga,

E são balanços de vida que,

Agora me assustam,...


E tornam a vida,

Se calhar dificil de recortar nos cantos,...


Mas coisas destas,

Não se podem sequer admitir 

                                                                                  Tirado daqui

2024/08/27

Estendeu-lhe o tapete....

 Um homem segue pela rua. Genuinamente bem. Ombros para trás, olhos curiosos, que indagam e prescrutam, sorriso inocente. Tem tudo para que o dia encarrilhe. Deixou para trás a negatividade. Rodeia-se de amor. Vai trabalhar onde sempre o fez. O corpo está quente e a alma fria, como se quer. Ela passou como anónima. Ele fixou-lhe o percurso. Ávido, decidido, mas ao mesmo tempo despreocupado. Como sempre gostou. Estendeu-lhe o tapete, como se faz quando se tem a certeza de algo. O dia ia a meio quando abordou aquele desafio. Queria saber mais dela, sonhos, cor de vida, rotinas de passado. Ela fez-se dificil. Para ele foi um desafio. Insistiu com a imunidade ao negativismo que dizia ter. Ela pareceu interessada. Mas ainda que não o suficiente. Ele não desanimou. Tinha prometido a si próprio que seria um dia em cheio. Nem que para isso tivesse de voltar atrás, e recomeçar tudo de novo.

                           Tirado daqui

2024/07/19

...esticasse como corda

                                                                            Tirado daqui

Paisagem na névoa, 1988
Theo Angelopoulos


Precisava de um corpo,

Que alguém esticasse como corda,

A ponto de ser noite,

E parecer que o estio vergava o ser como um cadáver ao sol,...


Estava farta das limitações da crença correta,

De querer só o que também os outros pudessem querer,...


E sim,

Poderia ser à prova,

Sob tensão,

Prestes a quebrar,

Mas feliz como o piar inofensivo de um passarinho,

Que chegaria lá,...


A qualquer sítio,

Onde perdesse nome,idade,

E principalmente vícios 

2024/07/06

...mudasse para melhor

 Era o antro do mundo,

Por entre o sono,

Sebes mal cortadas em casas abandonadas,

O menino perdia-se,

Sem saber onde ir,....


E um grupo de senhores iluminados,

Que queriam que aquela desilusão fosse menor,

Que a vida mudasse para melhor,

Levaram-no pela mão,

Havia sol encoberto por nuvens mascarradas no céu,...


O menino teve esperança,

De que ia deixar de se sentir perdido

                                                                                 Tirado daqui

França, 2023

2024/06/11

...nas cores desgarradas do adeus

eu digo-te para seguires,...

o que queres,
envolve o céu
como um manto arrepiado,
quase como o santo
sepúlcro insistentemente coberto,...

mas isso não é razão
para conheceres a morte,
há uma mesa,
uma frase incerta
sobre o medo de arriscar,
e falhar,
e muito amor,....

desejo e desejo
medido aos quilos,
e acomodado na forma
como fechas as pernas,
e me recusas a poesia
do movimento síncrone,....

mas segue,
não pares,
e que se escreva a
vontade das ilusões,
nas cores
desgarradas do adeus

                                                                               Tirado daqui
        de: Arrival (2016)

2022/03/12

Anjo ferido

Tirado daqui

Foi o momento em que ela conseguiu olhar de frente o homem que a tinha atraiçoado. Nada de especial aconteceu. Ouvia, lá muito ao fundo, do que parecia ser um gaio assustado, e de quando em vez uma brisa surripiada ao Verão, que a deixava dormente enquanto se insinuava por entre o corpo que escondia em roupas sem história. Ele remetia-se ao silêncio, e ela aproveitava para falar conforme melhor tinha aprendido. Com os olhos. Considerava-se já poliglota no que chamava de "refúgio ocular". E a ele, dizia ter-se magoado. Ter deixado de saber chorar, escrever, e até encontrar conforto na dor suportável que o silêncio da solidão, de quando em vez, lhe conseguia trazer. O silêncio continuava. E talvez fosse melhor assim. Não havia defesa possível para a falta de arrependimento. E os olhos dele diziam isso. Os seus continuavam a falar,...mas sem serem ouvidos. Ao afastarem-se, mais uma vez sem ter sido necessária a linguagem verbal, acomodou-se no entardecer que a envolvia, como um xaile o faz a uma velhota esquecida no mundo. E talvez fosse melhor assim.

 

2021/03/17

Não teve cheiro

 Mandou-a despir-se,

Era só um adolescente a pisar uma linha de não retorno,

Com uma mulher madura,

Indefesa,

De formas assustadoramente gastas,

E talvez por isso cativantes até   ao mórbido,... 


Com um coração que parecia pulsar pelo nojo,

E pela aprendizagem de qualquer coisa, 

parecida com os primeiros passos da sexualidade,...


Mas a nada soou,

Não teve cheiro,

Significado,

Nem sequer percurso irregular, que fizesse prever algo semelhante a um sentimento,...


E por fazer estava tanta coisa,

Quando a vida retornou em palavras de ter de ir embora,

Com o segredo de uma noite que não ia mais voltar



2020/02/14

Xis

assumi um falhanço
relativo,
não havia luxúria
 nos teus olhos,
sentia-me sem destino,
com as mãos cruzadas
em ‘Xis’,
na latitude certa de não saber falar,...

depois de anotarmos
em ambos os peitos
a palavra,
sim,
o que não sabíamos
soletrar,
pareceu-nos por
vezes o mundo,
o resto das palavras
jogado naquela indecisão,
de não deixar que as palavras
fossem as certas,
e o silêncio sobrasse
como resguardo,....

ao fim e ao cabo,
agora que sinto a poesia
a desapegar de mim,
frutifico-me como anónimo
de dois rostos,
e nenhum testamento


2019/08/15

Nua de expetativas

não precisei de te odiar,
nem da precisão de um adeus,
só me restou caminhar pelos ramos
quebrados do que dissemos,
sem sentir,....

não me acho pronto para
reescrever o nosso caminho,
e o que ficou por dizer assola
o frio do respaldo da saudade,...

abrindo a boca,
e ao selar o coração,
este seria o mundo possível,
agora que no gelo caminhas,
longe de mim,
perto da ideia de nós que
gritavas ser atabalhoada,
mal vestida,
inocente de mais até,...

mas que agora é a única que
existe,
uma ideia que connosco vive
ao longe,
nua de expetativas


2019/08/04

Maria e Manuel

maria foi indulgente com manuel,
manuel tentou perceber maria,
os dois assinaram
um documento de razões indissociadas,
maria prometeu fazer manuel feliz,
manuel escolheu partir sozinho,....

 à hora em que os lados do
tempo se depreciam,
já ia no vértice
enviesado do mundo,
e nunca mais deu ao mundo
as partes enlutadas do
seu coração,...

maria não mais sorriu,
de manuel não mais se soube


2019/06/28

Sombras

Não ia perder a oportunidade. Caminhava razoavelmente segura de si. Pela beira-mar, num entardecer frio, mas tolerável. Ponderava os prós e contras de lhe dizer que estava a pensar aceitar o convite para uma saída a qualquer sítio. Não teria nada a perder. Cerrou os punhos, e pensou no cenário ideal. Tinha de ser ao ar livre. Uma claustrofobia indecisa, impedir-lhe-ia de certo o tradicional jantar, onde quer que fosse. E teria de se apresentar respeitosamente solta. Fora educada nesse sentido.

Lourdes Castro


Tirado daqui

2019/02/17

Até que....

Esta seria uma narrativa calma. Com pontas refrescadas, crianças a sorrirem enquanto brincam ao desejo de crescerem juntas e em comum desejo de felicidade. Sol a brilhar num dia de calor afável, que massaja a pele e solta as feromonas necessárias para a que o dia acabe com um sentimento de partilha que faz a existência humana ser produtiva. 
Mas não vai ser. 
Há ansiedade num encontro de duas pessoas. Uma assegura, com um discurso incorreto e transpirado, que acha já não ter nada a perder. Não quer dizer o nome, pensa que andará pelos 50, mas não tem a certeza porque deixou de contar a idade no dia em que assustou duas meninas imberbes ao dizer que tinha acabado de fazer 20. Usa roupas largas, de padrões disformes e cor ruçada. Acha que já foi marxista, mas depois desiludiu-se com a inerente vontade do ser humano em consumir. É solteiro, segurança de profissão, gosta de bicas escaldadas e torradas aparadas, tomadas em cafés de mesas com tampos sujos, e sem televisão. Prefere ouvir rádio, com um som sujo, cheio de interferências, mas que lhe faça recordar a infância, e a quentura daquele ambiente controlado de que tanto sente falta.
Está sentado num desses cafés perante uma mulher. Usa cabelo curto, muito curto para mulher. E as palavras quase que lhe prendem qualquer veleidade de rebeldia, tolhendo-lhe o pensamento e o discurso solto. Também não quer saber da idade, mas neste caso por abominar a perspetiva da morte. Traz uma mala preta, com a alça quase a descoser-se devido à idade indefinida do cabedal. Deixou em casa a mãe moribunda, com um cancro que lhe rói os ossos, e a solidão de saber que terá, ela própria, de esperar pela morte. A filha anda desorientada, e procura não se sabe muito bem o quê. 
Já conheceu o calor de ter alguém à espera em casa. Foi há muito tempo, e quando acabou, o tempo estilhaçou-se em mil bocadinhos, que nunca mais se deixaram apanhar. Está ali para não sabe o quê. Talvez para o melhor. Mas espera sempre o pior. Não consegue deixar de ser pessimista, e pensar que terá de sair dali como entrou. Com um bilhete para o regresso aos dias sem corpo.
Ele tomou a iniciativa. Falou do dia que tinha acabado de nascer. Parecia promissor, apesar de duas gaivotas insistirem em fazer círculos imperfeitos no céu, e trazerem a ideia desnecessária de que a tempestade poderá chegar a qualquer momento. Ela respondeu com um esgar de olhos de aborrecimento. Quem a conhecia, sabia que franzia o sobrolho sempre da mesma forma, quando queria estar em qualquer lado menos ali. Ele percebeu. Pediu qualquer coisa de beber. Sentia que estava num ambiente controlado. Ia aquele café de vez em quando. Os tampos das mesas já tinham perdido a cor, e ganhavam sujidade encardida a cada dia que passava. No ar um som feio, secundado pela velhice de todo aquele ambiente.
Ela sentia-se desconfortável. Pensava em voltar aos dias de sempre. Disse que tinha de ir a um sítio, falar com alguém por causa de qualquer coisa. Ele estava quase a desistir, até que pensou em falar que gostava de retirar sentido à vida, escrevendo. Mostrou-lhe a sebenta que tinha sido do avô, escrita em todos os cantos, na capa e contracapa. A tinta já esborratava. Disse que adorava pequenos poemas. Coisas sem sentido.
Ela olhou despreocupada, sem interesse. Pediu muita desculpa, e levantou-se. Saiu para a rua, virou à esquerda, e começou a descer a rua. Ele ficou indolente. A olhar para o vazio. Pensou que se deveria estar bem à beira-rio, aquela hora...



2018/06/16

Engate

Tinhas o hábito de repartir o real em bocadinhos. O bom, a facilidade de amar, a melancolia, a vontade de ir comprar o jornal ao mesmo sítio de sempre, querer foder, querer gritar ao vento a fórmula indefinida da solidão. Perdeste a chave de casa no dia em que paraste com esse ímpeto. Estavas à beira mar, num daqueles dias em que o céu escolhe o mais simples,e desfaz-se em lágrimas . Lembro-me que disseste para te levar para minha casa. Que eras um ser sem dono a partir daquele momento, e precisavas de te aninhar aos pés de uma sombra.
Quando o fizeste, percebi o teu regresso ao dito normal. Deixaste a compartimentação como vicio, e hoje sinto-te deste lado: dos amantes da razão.

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Tirado daqui