Sentir o dia a esvair-se, com os dedos dos pés massajados. Os lábios, pelos lábios, o humedecer de uma bebida ordinária. Do que acidifica o estreito, com borbulhas. Com restos de nenhuma honra. Cássia será a partida para novas definições de estilo. Gosta do que as coisas deixam de erótico. Quer seja a vida real a ensinar, quer sejam os sonhos a preto e branco a transformar tudo numa sopa de letras partidas, aquecidas num pequeno fogareiro a petróleo. Aprendeu a repousar em cima da almofada da esperança, e que esta a ajude a esperar. Faz sentido, porque as coisas têm mesmo o seu tempo de acontecer. A sociedade evolui, porque as pessoas gostam de se confrontar. E há-que saber esperar, pois tudo vem no momento em que tem que ser. Nem antes, nem depois.
Já começou, e ela sabe que sim.
Por isso, espera com as mãos debaixo dos sovacos, e cumprimenta o tempo que passa com um sorriso, entremeado com uma lágrima. É a sua maneira de sorver a energia das estações, por todos os meios de fuga que uma casa tiver.
Cássia gosta que lhe diagnostiquem pequenos problemas existenciais em função do que faz questão de mostrar. Se é o que sempre foi, e nunca será aquilo que os outros querem que ela tivesse sido, para quê forjar cenários de extinção de relacionamentos?
Para isso, diz quem sabe, já existe a poesia. Que nos serve o almoço, o jantar, a ceia, e no fim ficamos com uma fome de sentimentos, que nos apetece logo o pequeno almoço.
Mas é um mundo de finos cabelos soltos. Basta um acariciar descomprometido, duas rajadas de vento em final de Outono, e a bruma cai. Desconjunta-se uma valsa, para do desperdício renascer uma cantoria desfeita. Cássia deixa-se então arder no ar quente da indecisão, e faz de si também a bruma.
Cássia é um sonho mau que já passou. A vida recomeça para quem gosta de Cássia. Eu detesto-a, por isso esqueço que algum dia desejei ser uma leve nota de música na boca infernal do conceito que ela foi.
2008/06/11
Oniricozinho
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