Tinha explicado a várias pessoas o meu conceito de luta política. Um dizia-me que estava ultrapassado. O outro concordou, mas contava pelos dedos das mãos esquálidas a quantidade de produtos, físicos e imateriais, que o zé trabalhador quer em cima da mesa a cada jantar que a mulher lhe faz.
A resposta que mais considerei, deram-ma quando começou a chover. Recordo-me do dia. Uma terça-feira de Novembro, naquele lusco fusco em que as pessoas perdem vontade de falar, mas continuam a marcar passo na rotina de qualquer hora. Foi de um tipo que conhecia mal. Acho que nem me lembro do nome dele. Marcava aí os seus 50 anos, e costumava vê-lo a andar sem destino, na azáfama de todos os dias. Avançou, depois de me ver sair da taberna do qualquer coisa, e vinha de dedo no ar. Dizia que me tinha ouvido a falar sobre política. Que considerava todas as coisas boas, até se começar a dizer que o homem só é feliz por causa do conflito social. E que de todas as vezes que se enervara sobre política, aquela fora a mais trágica.
Esticou-me ainda mais o dedo. Afiançou-me que a luta política era uma miragem. Que costumava escrever poemas para não refletir sobre o futuro inconsequente do homem. E que tudo já tinha deixado de contar para ele. Pela minha cara inquisitiva, a contar os segundos para conseguir arranjar um argumento certo para retorquir, ele resolveu afastar-se.
Deixou-me a pensar se deveria mudar o meu nome para outra coisa que não Karl...
2022/03/12
...outra coisa que não Karl
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O personagem que narra a história não deverá mudar o nome, antes deverá acrescentar Marx.
ResponderEliminarTalvez
Eliminar😊
Antes de escrever seja o que for ... deixo-me ficar em reflexão
ResponderEliminar.
Feliz fim-de-semana … Saudações poéticas
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.
Ainda bem, que haja reflexão
Eliminar:-)
Abraço ricardo