cesare pavese / trabalhar cansa
Atravessar uma rua para fugir de casa
só um rapaz o faz, mas este homem que vagueia
todo o dia pelas ruas já não é um rapaz
e não foge de casa.
tardes em que até as praças ficam vazias, estendidas
ao sol que vai pôr-se, e este homem que chega
por uma avenida de árvores inúteis para.
Vale a pena ser-se só, para se estar cada vez mais sozinho?
Percorrê-las apenas – as praças e as ruas
estão vazias. Havia que parar uma mulher
e falar-lhe e convencê-la a viverem junto.
Doutro modo fala-se sozinho. É por isso que às vezes
vem abordar-nos o bêbado nocturno
e conta os projectos de toda a vida.
que se encontra alguém, mas quem anda pelas ruas
de vez em quando para. Se fossem dois,
mesmo a andar pelas ruas, a casa seria
onde está essa mulher e valeria a pena.
De noite a praça volta a ficar deserta
e este homem que passa não vê as casas
nem as luzes inúteis, já não levanta olhos:
sente apenas o empedrado, que outros homens fizeram
com mãos calejadas, como são as suas.
Anda certamente na rua aquela mulher
que, rogada, havia de querer dar uma mão à casa.
Cada pessoa tem a sua forma de ser e estar que se reflecte em tudo o que faz. Escrever poesia é uma dessas coisas. Assim, nunca o Miguel escreverá como Cesare Pavese, nem eu escreverei como o Miguel. Não que me considere poeta, longe de mim, isto foi apenas para estabelecer um paralelismo. :-)
ResponderEliminarUm abraço.
Obrigado pelo elogio e incentivo
Eliminar:-)