2020/12/27

ela não me ouvia

 de um tempo,

dentro de um tempo,

ela não me ouvia,

como se o lugar se desprendesse

da razão,

e para ela o silêncio fosse o somar

de todas as coisas,

as mesmas que recordava de uma

hora sem formas,

que tinha ficado lá atrás,

e agora não existia mais,...


lembro-me de lhe dar 

a precisão de uma presença,

tudo o que estar apenas trazia a mais

do que o falar,

do que o desnecessário do verbo sempre

que o gesto o suplanta,

mas ela não me ouvia,...


a cada manhã,

a cada segundo que trocávamos um olhar,

optava por se afastar mais,

e mais,

até que ao pé dela,

deixei de a ver,

como se o momento pesasse agora

mais que toda a história de 

passos inconseguidos


 

10 comentários:

  1. Um poema que fala de uma situação comum, a falta de comunicação em que o que não fala acaba por se ausentar estando presente. Comum, muito comum.

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  2. Essa é a consequência do distanciamento, que tudo mina, até chegar à invisibilidade. Gostei. Real.
    Aproveito para lhe desejar, desde já, um 2021 libertador, em todos os sentidos. Abraço.

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    1. Obrigado pela presença
      Um cenário idílico levado ao extremo
      😊

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  3. Que poema!
    Um dos melhores que aqui li.
    É real e por isso é doloroso.
    É como falar para as paredes.
    Mas está muito bem escrito.
    Parabéns Senhor dos gatos.
    Saúde
    :)

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  4. Por vezes a saudade dói mesmo que poeticamente.
    .
    Feliz domingo
    Cumprimentos

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  5. Ah, mas há os silêncios que gritam, gritam tanto... não são ouvidos, porque a indiferença, ou outro ruído, já falou mais alto no coração do interlocutor.

    Bom Domingo, Bom Ano, com as palavras certas e certeiras. :)

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    1. Os silêncios valem sempre o propósito de qualquer história
      À conta deles já se escreveram lindas obras
      😊
      Bom Ano e obrigado pela presença

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