O patrão tinha acabado de despedir dez estivadores . Ninguém queria subversivos na empresa, alegava o senhor doutor. Eram homens que trabalhavam quando a sorte queria. Trocavam murmúrios com os colegas, e nem sequer perdiam tempo a deixar passar uma frase coerente por entre os lábios. As horas,
Passavam-nas a carregar sacos de ráfia cheios de trigo da cabine dos camiões, para o interior de monstruosas barrigas de navios, que depois largavam em direção ao ultramar.
Estes homens passaram fatias incontáveis de tempo a fazer a mesma coisa.
E um dia, dois deles, irmãos de sangue vindos da província, filhos de pais diferentes mas que juraram compromisso de amor para toda a vida quando ainda eram petizes, e mal falavam, pediram um dia para ir à terra visitar a velhota que os tinha criado. No quarto de alfama em que dormiam, receberam uma carta a dizer que a mãe de amor estava por dias. Já não comia, fazia as orações desconexas, sem sentido, e sem sequer chamar pela nossa senhora que sempre a acompanhava. Acordaram ambos que tinham de fazer o que era a obrigação que a vida lhes dava, e no serviço pediram ao capataz.
A resposta foi a ordem para se apresentarem ao senhor doutor. Foi tudo tão rápido, que só perceberam que tinham perdido o emprego. Os colegas que quiseram saber porquê, também foram despedidos. Lá fora, à chuva, dezenas de chefes de família, donos só da roupa do corpo e de incontáveis bocas para alimentar em casa, esperavam a oportunidade para serem eles a receberem por aquela fantasmagórica percepção de realização pessoal.
O senhor presidente do conselho, no dia seguinte, ia brindar aquele pedaço de progresso com a sua presença.
otima persepção mas gostei muito
ResponderEliminarObrigado pelo comentário e pela visita
ResponderEliminar;)