2018/08/17

Fazer o tempo menos que o lugar

Quis dizer-te algo belo, mas ao mesmo tempo que não deixasse marca debaixo da pele. Tentei comparar-te à chuva. Dizendo que te achava o mesmo que a vaporização irregular da respiração naquele momento em que acaba de chover, e o céu se esmaga num cinzento dedicado ao tempo, e que sabe que vai morrer na certeza do sol. Não me ligaste. Fazias qualquer coisa em renda, encostada ao muro de todos os dias, e que do lado de lá guardava o teu mundo de cristal onde ninguém estava autorizado a entrar, sob pena de ruína total de um equilíbrio instável.
As frases pareciam escassear, porque para mim sempre tinhas sido a linguagem. O verbo desfiado em gomos de substantivos, para que só me restassem os sintagmas não verbais quando te quisesse aconchegar em qualquer coisa parecida com um gostar de ti.
Sobrou o entardecer que, sabendo eu te ter sido sempre indiferente, me deixava certo de que poderia tentar analisar uma linguagem corporal que te era característica. Com resquícios de uma solista num Lago dos Cisnes pintado a notas musicais sem cores, mas que mesmo assim servia para frisar o necessário de te querer ter.
Quando a noite chegar, e eu sentir que só sei pensar e escrever de uma forma monotematica sobre o evoluir da criação, deixando o resto para quem foi dotado de um pensar eficazmente aberto ao mundo, talvez me vá embora para nunca mais voltar.
Observava, entretanto, como as flores pareciam querer defender a dissertação do primado da indiferença, sobre o amor, em redor dos teus pés descalços e que lutavam por enraizar-se no cromático da Terra.


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