2018/11/03

Alienação do tempo descrito

esperávamos um mandamento de respeito. Algo como a voz, replicada em sonoras
ondas de eternidade, que saísse de dentro daquela casa que, decrépita,
se preparava para morrer.
Diziam que era ali que entravam
homens sem alma, e saíam profissões de fé transformadas
em alvoradas sem cor.
Só deixando para trás um odor a terra queimada, sinónimo de maternidade hermafrodita.
Líamos a razão, apenas com os olhos fechados e em lágrimas.
Falava-se no milagre sem cor. Que a criação seria recriada aos poucos,
sem fantasia.
Disposta a ouvir as pessoas no sono
e na alvorada. Independentemente de credos, raças, ou segregações sexuais declaradas.
Efusivamente anunciado, o tempo parecia ter recomeçado. Em ti eu achava o protocolo certo de estar vivo. Ouvindo salmos de anúncios sem voz,
a rescisão da divisão entre o real e o passado,
a frase escrita, e dita.
Precisávamos de uma razão para continuar a respirar.
E encontrámo-la nas danças alienantes da névoa da manhã, que bailava estranhos encantamentos hermenêuticos em nosso redor, pedindo a madrugada.
Talvez tudo fosse o necessário para que cada minuto se passasse como nunca havia sido o anterior, e nunca poderiam ser os restantes que estivessem para vir.


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