José Ángel Cilleruelo / bairro alto
2
Uma revista rasgada na armação
da cama vazia. Além o colchão
no piso de mármore, junto de restos
de pequena fogueira. Nas paredes,
mensagens de amor reles e obsceno.
Beatas, lixo, plásticos, migalhas
por todo o lado. Um preservativo
recente junta um sinal ao abandono.
Não sei se neste quarto estive só,
numa tarde de chuva, masturbando-me
devagar. Ou neste quarto será onde
desabotoou a saia e disse
deita-te! e o fio me beijou
os olhos. Ou talvez que na janela
de um quarto como o que descrevo agora,
numa manhã de setembro aziaga,
tremi ao ver que corria pela avenida.
Camiões e gruas e operários
destruirão o velho hotel em poucas
horas. O pó cobrirá a figueira
e os fetos do pátio antigo.
grandes rodas esmagarão a erva
onde me deitei um dia com um livro
nas mãos. Levantei os olhos
e estava junto da piscina,
prestes a rir-se do meu sotaque
de estrangeiro. Este quarto. Estas ruínas
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