a nossa mãe de todos
os dias saiu de casa,
os dias saiu de casa,
mal o dia saltou do ovo,...
caminhava
gastando o
dentro dos pés,
com os
sapatos gastos,
a navegarem
como naus catrinetas
nas ruas molhadas,...
ficámos em casa
alinhados na
cama bamboleante,
sem vivalma a
limpar-nos as lágrimas,
nem para ouvir os
desgostos sem cor
que transpiravam
como fel da fome,...
a nossa mãe de
todos os dias
voltou para
nos ver quase mortos,
embrulhados no
papel do amor
que nos espalmava à vida,
como se por ali tivessem
passado os natais
que nunca conhecemos,...
deu-nos de comer
com as mamas escanzeladas,
e no fim
resumiu-se tudo
à lua a aconchegar-nos
num silêncio sem cor,
capaz de nunca
mais pedir sol
Um texto belíssimo que nos transporta para dentro do peito das crianças esfomeadas. Quase sinto a tristeza, o frio, o desgosto. No final, sente-se a morte a deambular pelo mesmo luar que os ilumina parcamente. Um silêncio capaz de nunca pedir mais Sol, é talvez um dos eufemismos mais belos que tenho lido para descrever a morte. Parabéns.
ResponderEliminarMuito obrigado rui.
ResponderEliminarVolte sempre
Abraço