2022/02/08

Rapariga interrompida

As pequenas coisas tinham o condão de, com ela, se prolongarem no tempo. Um afago no rosto. O passeio de un gato no muro da casa de bairro em que ela nasceu e prometeu ir acabar a vida em grande. Até um homem uma vez morreu, e toda a gente garante que lhe pediu licença antes de se estender na viela de dois tons, e dar o ultimo suspiro.Começava talvez por ser a forma como ela falava. O lábio inferior retraido, como os cobardes, mas que curiosamente projetava a voz o suficiente para deslizar por um mercado, de uma ponta à outra, até confortar o âmago das pessoas mais um pouco.Vestia-se sempre para a chuva.  Galochas que tinham sido da mãe, que ainda orgulhosamente exibia o que considerava os mesmos contornos dos pés da filha.  Um oleado cinzento, e uma saia que deslizava dois dedos abaixo dos joelhos, facilitando a marcha a passo largo em redor do mesmo bairro de todos os dias. Havia, provavelmente, um livro por escrever no meio desta coincidência de estados de espírito. Talvez fosse a pessoa certa para o tentar



6 comentários:

  1. Um texto diferente e muito interessante.
    Prende-nos, ficamos sempre esperando o que vem a seguir.
    Uma figura curiosa e estranha, que me fez lembrar uma outra mulher que vivia na minha terra, mas não era de lá. Dava nas vistas pela sua altura, inusitada por ser demasiado alta. Vivia sozinha. Sempre vestida de negro até aos pés.
    Quando morreu, grande foi a surpresa...a mulher, era um homem.
    Parece que estou a vê-la. Na altura era eu menina, pensei muito no mistério que envolvia aquela pessoa que se fazia passar por mulher.
    Essa sua, também é estranha, é.

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  2. Acho que sempre tive atração por histórias estranhas e de pessoas estranhas😂

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Acha disto que....