2024/04/26

Processo gradual

 Aprendera onde estavam as coisas,

O espaço que tinha de ficar entre a mesa e a parede,...


Deixar o chão com espaço para respirar,

Sentir recordações a correr como pó,

E deixar acima de tudo a singeleza da luz natural,

Ocupar a candura das paredes brancas daquele espaço,...


Tinha sido um processo gradual,

Inocente até,

Várias pessoas lhe tinham ensinado que a felicidade poderia depender de algo tão sem importância,...


Que deixava as coisas que realmente importavam,

Como o tempo da vida,

O cheiro da morte,

E o lugar de fruição da poesia de qualidade,

Completamente em perspetiva 

                                                                                Tirado daqui

2024/04/25

Lentidão do medo









                                                                           Tirado daqui

Nem nunca jamais como agora,
Contemplei a vastidão do escuro,
Olhos desabituados da lentidão do medo,
A vida pesada com tempo,
Distendida em capitulos inocentes e reassumidos,...

Perdi as funções anatómicas da alegria,
Do relacionamento coerente e benfazejo com os outros,...

Dói-me o corpo de me doer a alma,
Sem conseguir afastar a realidade de ser olhado,
Por quem ou pelo que não conheço,...

O dia desassombra-se da noite,
E tudo se interrompe com a promessa de voltar,
Quando o vácuo do escuro abrir de novo a porta

2024/04/24

Dia santificado

 O que eu queria dizer era;

Ter um discurso correto,

Fazer incisões na prosápia,

Para que os lamentos saiam certos,

Não haja hesitações,.. 


Talvez me encontrem um dia santificado,

E hajam desejos de rutura espalhados pela cidade,

Inalcançáveis para a minha vontade de proselitismo,...


E assim,

Aos saltos pequenos de estrofes,

Eu um dia chego lá,

Vou acordar na antiga Atenas,

Com Platão ao meu lado

                                                                     Tirado daqui

Moka Pot    -   William Kentridge .

África do Sul, 1955  -

Linocut,   26 x 18 cm. 

2024/04/23

...imortalidade de um anónimo

Um dia quando terminar a hora,
E os dedos pesarem o mesmo que o coração vivido da felicidade,
Não seremos todos transparência,
Páginas suficientes para a imortalidade de um anónimo,....

De mim esperarei a tremura,
Um corpo ao deus dará,
E a alma,
Se existir,
Trancada como a vontade frustrada do adeus,....

E ao fim e ao cabo somos o melhor de nós próprios,
Depois de o sol se pôr,
E tudo isto ser falso e moribundo

                                                                           Tirado daqui

2024/04/22

Dizer

dizes,
dizes de mim,
da força,
do desespero,
das dores lancinantes
sem razão,
dizes em choro,
em voz abafada,
dizes a porção exata do vazio,....

dizes de precisar,
sem saber,....

dizes a luta,
e estou farto,
de dizer,
bater,
agredir,
ensaguentar,
regressar a menino,...

e dizer da minha mãe,
que não lhe perdoo,
que a morte a tenha levado,
sem dizer

                            Tirado daqui

Roberto Ferri

Details

2024/04/21

um zunir de luz...

a voz,
o amordaçar,
tantos passos
que se perdem
enquanto se conta o adeus,....

um zunir
de luz que se some,
enquanto os olhos
condoem-se para continuar abertos,....

verdade,
somente a verdade para explicar,
como os braços se prolongam
no retrato do corpo,
o ser é mascarrado
na lama da chuva que cai,...

e um passarinho que
saltita,
quando já não és,
foste antes de partir,
e agora,
o enleio do ter
e haver,
desapareceu,
até quando voltar

                                                                                 Tirado daqui

Francesca Woodman, “Self-Portrait With Cat”,
Nova Iorque, 1980

2024/04/20

Eu, e ele e ela

haver um espaço
no canto do quarto,
onde o bolor e o
cheiro de perfume se confundem,
onde ela voa sem realmente sair do lugar,...

com doçura,
a calma dos provetos
anos longe,
ele percebeu-a,
disse-lhe de tudo
como num livro sem fim,...

mas ela foi ficando,
e agora em olhares findos,
não sabe dele,....

só se desnorteia,
sem perceber

                         Tirado daqui

Buñuel,Chinchón

Fotografia de 1962


2024/04/19

Contornos de rostos


                                                                         Tirado daqui

Os Cyclops (1957)

Ao fim e ao cabo, todos aqueles rostos eram confiáveis. Todos os dias os via, habituara-se a duvidar de tudo, e até daquelas pessoas que não conhecia, e fazia por não conhecer. Mas chegara o dia em que, tudo indicava, teria de mudar a sua conceção. Havia sorrisos, contornos de rostos sumidos pela indiferença, pelo passar doloroso do tempo. Mas havia essencialmente sinceridade. Luxúria pelas passagens simples e irrepetíveis da vida. Era isso, confiabilidade, que se tratava aqui. E ela era reconhecida. Passou por isso, a partir daquele dia, a considerar cada especificidade que via. E renunciava ao adeus, ao desprezo. Concentrava-se nos defeitos de um rosto, na perfeição em construção de outro, nas lições de vida ocultas de outro. E readquiriu a felicidade. A vontade de deixar marca no solo em cada passo que passava a dar. 

2024/04/18

medo,...e um templo



tens medo,
e em dias curtos
desenhas a cúpula,
o capitéu,
as portas e janelas,
e falas da fuga de um templo,...

tens medo,
e não há sítio no mundo,
frases certas para apurar o tempo,
a razão,
a política apropriada para o fim,....

e com medo,
fazem-se países,
defendem-se prisões indefensáveis,
e há o que sobra,
do templo que desenhaste

2024/04/17

Vilipendiei

 

                                                                             Tirado daqui

depois de dizer,
desdisse,
contrapus,
vendi ao sol restos
de água gelada,...

enganei,
vilipendiei,
guardei em gavetas
o perfume da tua gola,
os restos esfarelados,
da pele que me seduziu,
e que escapou quando saíste,...

depois de dizer,
relevei,
perdoei,
encafuei-me numa
cama,
senti o sol
viralizado,
e como mentira,
esperei o sono,
a olhar pra luz,
entediado

2024/04/16

Coisas em repouso


E diz-se das coisas em repouso,
Da barriga distendida,
Da mão de amor pousada num colo,
Da boca que só se mexe contraida pela dor,
Diz-se a verdade mais que o desejo,...

Diz-se que se lamenta que as pessoas tenham partido,
Afirma-se que o silêncio mete medo,
E que um grito de dor debaixo de uma chuva demolidora,
Faz tão melhor que a ausência,...

Em suma,
As coisas em repouso são o que deflagra a inoperância do tempo,
Mas também o seu devir de instalação,
Instalação do pavor de mudança 

2024/04/15

Medo era inevitável

 Uma discussão baseada no medo,

Vontade negada de fazer mais,

Dizer mais,

Resistir a uma herança de descrédito,

Para dar o safanão final naquela condição de infortúnio,...


E que assim se começasse a dar passos que contassem,

Um desejo real por carinho,

Crenças comuns nas mesmas coisas,

Aquela musica que viesse ao nosso encontro,

Para nos tornar felizes,

Dignos de qualquer coisa,...


Mas haveria sempre uma crença,

Que esconderia a luz,...


Por isso o medo era inevitável 


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