2024/12/25

Qualquer coisa de natal escrita num comboio...

 Não era culpa minha que as desilusões tivessem de ser deixadas à porta neste dia. Cheguei sozinho. A roupa estava apertada, desconfortável de uma forma quase medieval. O frio afagava-me o rosto, em intervalos curtos, psicoticos. Disseram-me que aquele sitio estaria cheio de gente, e que eu seria só mais um anónimo, capaz de deixar o tal de natal à porta, e confundir-me no meio de mais uma multidão, como as tantas em que ultimamente me achei imiscuido. Mas não. Era um edifício alto, imponente. Com arcos medievais, e onde as únicas formas de vida pendiam dos voos difusos de pássaros que, como eu, se incomodavam com a crueldade dos elementos. Anoitecia. Olhei para trás, e o sol já era um com a linha do horizonte. Pensei nos outros sítios todos onde poderia estar. A ouvir o barulho infernal de bairros iluminados por reuniões anónimas de amor e familiaridade, que se repetiam em loop, ano após ano. Ou sozinho em casa, a olhar para um prato de comida. A desenhar círculos intermináveis com os meus olhos. Mas estava ali. A fazer não sei o quê....


                      Tirado daqui

4 comentários:

Acha disto que....