2020/03/22

Surreal designação de um beijo

Talvez ela mo fosse dizer agora. Sei que anda a sobreviver a si própria, anormalmente instruída só no suficiente para fazer sentido. Para que cada passo que teme dar, não fique atrás do próximo que dá sem que a razão lhe explique a forma a dar a cada frase. A cada sentimento.
Pára, volta para trás, debruça-se sobre o chão, como que a raiva a absorvesse em espiral, consoante o seu próprio desejo:
- Não me disseram o que viram. Só que lhes doeu.
Esperava mais.Sei que há um, que me parece sem sentido. Dizem que já matou. Que não reza. Que não tem cultura. E que só anda por onde ela anda, porque é isso que os homens sabem fazer. Seguir o tracejado do que as mulheres percorrem, e esperar que algo os ajude a fundirem-se com a história que cada sorriso de uma mulher transpira.
Saímos em silêncio daquela casa. Na rua, todas as ruas pareciam caber afuniladas naquela brisa de todos os sentidos que atormentava as pessoas. Percebia-se o medo, o impedimento que rendilhava o desejo em passar. Em inutilizar os contactos visuais, apenas o tempo suficiente para chegar a porto seguro.
Peguei-lhe numa das mãos, enquanto a sentia com a outra a querer remar naquelas águas revoltas. Já não era comigo que queria estar. Parámos, e tentei um beijo. Recuou um passo, respondi-lhe com outro em frente, e ela defendeu-se com um menear de rosto. Magoado, profundamente magoado. Senti-lhe um espírito que chorava, inconstante, revoltado com o passar das horas que a tornavam inútil, desprovida de sentido. Velha, com a juventude a escapar-lhe pelos rebordos irregulares do sorriso.
Despedimo-nos. Tudo estava contado ao segundo. À necessidade de seguir com vidas que, naquele momento, tinham acabado de nascer e lutavam ainda para habituar os olhos à luz de existências que vestiam apenas a pele....


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