às oito e meia da noite do primeiro dia do resto da minha vida, passava na televisão uma tourada a preto e branco. lembro-me que as notícias tinham acabado de dar, com mais uns aumentos de luz, água e gás, e a morte de um cardeal qualquer não sei onde, e depois eu estava à espera da minha sopa quando alguém gritou que ia começar a tourada.
estava no mesmo sitio de sempre, aquele café ao fundo da minha rua, alumiado por uma espécie de de gambiarra, com um balcão de madeira carunchosa, e três mesas com os tampos cobertos por toalhas plásticas, com flores, acho que malmequeres. digo acho porque a única coisa que conseguia distinguir ali dentro sempre que passava a porta, era a minha fome. o resto nem me preocupava em perceber pois ficava inevitavelmente deprimido. mas naquele dia, não sei porquê, a minha atenção virou-se para uma tourada. eu que tinha uma indiferença difícil de explicar por animais, naquele dia comecei a pensar num sofrimento telenovelesco, com maus a esforçaarem-se por acabar com o tempo das outras criaturas, e depois o sangue a pintar um chão de gravilha, numa arena toscamente redonda, quase como se para depois ficasse a crucificação de várias pessoas para sobremesa.
quando a sopa chegou, reparei que o pulso direito do homem que sempre me servia continuava a tremer, como habitualmente. por essa altura já o boi tinha entrado na arena.
estava no mesmo sitio de sempre, aquele café ao fundo da minha rua, alumiado por uma espécie de de gambiarra, com um balcão de madeira carunchosa, e três mesas com os tampos cobertos por toalhas plásticas, com flores, acho que malmequeres. digo acho porque a única coisa que conseguia distinguir ali dentro sempre que passava a porta, era a minha fome. o resto nem me preocupava em perceber pois ficava inevitavelmente deprimido. mas naquele dia, não sei porquê, a minha atenção virou-se para uma tourada. eu que tinha uma indiferença difícil de explicar por animais, naquele dia comecei a pensar num sofrimento telenovelesco, com maus a esforçaarem-se por acabar com o tempo das outras criaturas, e depois o sangue a pintar um chão de gravilha, numa arena toscamente redonda, quase como se para depois ficasse a crucificação de várias pessoas para sobremesa.
quando a sopa chegou, reparei que o pulso direito do homem que sempre me servia continuava a tremer, como habitualmente. por essa altura já o boi tinha entrado na arena.
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