2023/12/12

...ser andrajoso e sem nome

 


E mesmo por aí. A largueza. Os desafios que um assobio do topo da rua representava. Eram duas e picos,
e como eu gostava de dizer as horas assim!! O dia tinha-se espreguiçado para mim. Ultimamente, punha os pés na rua sempre da mesma forma. À larga. Independente de pressões. Com roupa velha, rasgada. Um par de ténis de Xadrez, que foram de alguém que já não cabe na minha memória. A passada larga, tremida, levava-me a sítios diferentes em cada dia que passava. Era o desnorteado, desorientado, pessoa sem destino, que assustava pelo cheiro, cativava pelas ideias. Um dia inocentei um assassino. Expliquei-lhe que a culpa que sentia, ao chorar desalmadamente junto de um homem a quem o sangue brotava, em golfadas, do peito, era sempre relativa. Se havia uma faca, teria havido uma provocação. Se havia arrependimento, o mesmo cabe sempre no bolso de trás de quaisquer calças. E seguia caminho, inocente para mim mesmo. Culpado aos olhos dos que me viam escapar, impunemente. Sem me querer apresentar, sou fruto das minhas próprias circunstâncias. Fui filho da aventura e do queixume. Nasci presente, e cresci passado. O meu tempo cabe agora nas ruas onde me esconde. Nos becos da náusea, do vómito. E quando regresso ao meu espaço, onde me escondo talvez, de mim próprio, não há nada que caiba na inexistência do meu sorriso. E mais não escrevo. O sol já se põe, esquadrinhado pelos intervalos da prisão de casas que me tem, por enquanto, alma desorientada e sem idade….


6 comentários:

  1. Pois é meu caro, sempre seguimos adiante, todos nós. Cordialmente abraço. CSamma

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  2. Texto visceral. Obrigado por compartilhar.

    Boa semana!

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    Até mais, Emerson Garcia

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