2011/05/25
Quandistão do Sul
As pessoas sentaram-se à mesma mesa para tentar discutir a forma como aquele dia poderia terminar. Quando o relógio obstinadamente pisou a meia-noite, ainda se ponderava a possibilidade de ter havido uma sequência de pessoas a rir desalmadamente da morte de um cão. Ninguém tinha a certeza disso, mas no chão revirado em redor da palmeira mais velha do jardim perdido daquela cidade mediterrânica, estava o cadáver do bicho. Inerte, de olhos esbugalhados, como que a pedir socorro. Quem o descobriu foi uma velha vagarosa, de quem se dizia trazer o sangue de muitas indecisões. Quase tropeçou no animal, e ao desviar-se à ultima da hora rezou para que não se passasse nada de anormal no dia da sua morte, como por exemplo ter de cair inanimada em cima de uma coisa daquelas. Chegou à esquina, avisou o homem do talho, que afanosamente disse ao chinês dos silêncios barulhentos, e pouco mais tarde já o animal tinha mais outro ao lado morto. E mais outro. E mais outro. Até serem tantos, que do exalar de um cheiro pútrido como aquele subiu aos céus uma nuvem rosa de noves fora qualquer coisa..... Parecia mesmo que aquele dia não ia ter fim....
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