Recordo-me do tempo em que os sentimentos tinham caudas de dinossauro. Apêndices cinza morte, que rabejavam enlatados em fracasso antecipado. O tempo era de chuva em conserva, que tresandava a azeite podre. Um odor de medo, que não dizia ao tempo que era tempo.
Dizia-lhe que os sentimentos são monstros, irmãos de arranha-céus. Que esmagam noctívagos ensimesmados em donos do mundo, transformando-os no cuco do relógio da morte. O relógio que importa à noite, e chia avariado de dia.
Finado o último som grasnante de irracionalidade paleolítica, ficaram dois desertos. Um de flores turvas, que se achavam feias, e por isso mimetizaram-se numa só; a flor de silêncio comprometido. E o outro de aço. De pé, a chutar pedras para o riacho dos suicidas, admiro a extensão do mesmo. Perdi duas vistas transparentes, e cheiro com o sentimento de fruição que me ficou.
2008/04/18
Parque Jurássico
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