To Swell the Sky,
2024/03/31
Separados pela memória
To Swell the Sky,
2024/03/30
12:04, Saturday afternoon
abres a janela. Nada to obriga, sentes só uma necessidade carnal, desejo de o fazeres. A brisa envolvente brinca com o teu espírito inquisitivo, o sol desenrola-se num corpo imperfeito, como a invasão incolor, mas perfeita, que precisavas naquele momento. Um pensamento sozinho, leva a que admires, observes o que tens de observar pelo tempo que a necessidade te obrigar. E depois, fim. Há uma escuridão infinda, de olhos fechados no silêncio de uma sala, para recuperar
Viela sem dono
2024/03/29
Recomendação de leitura
E digo só que há algum tempo não me entusiasmava tanto a ler uma obra. De uma ideia simples, o autor fez um livro perfeitamente adaptável à ficção televisiva, teatral ou cinematográfica.
Recomendo vivamente...
...relógio que não parava
No inverno as silhuetas das árvores,
Não só das árvores de todas as criaturas vivas,
Custam mais a distinguir,
Parecem não ter cor,
Arrastam-se ou dissolvem-se até em formas dificeis de descrever,...
Habituado a reescrever tudo o que tinha decorado até aí,
Fixava-me na perspetiva sonora das coisas,
No amanhecer que comparava a um adagio sinfónico,
Na força das rotinas,
Que me escapavam como o ar desperdiçado pelas pessoas,..
E foi assim que deixei de acreditar nas rotinas,
Os sentimentos serviam-se a desoras,
As estações do ano passavam sem concórdia,
E era eu que me jogava como uma pedra,
Em sentido figurado,
Pelo espaço disforme do relógio que não parava
Tirado daqui2024/03/28
...a poesia a espraiar
2024/03/27
...que tudo recomeçasse?
se o tempo parasse,
o aqui e o agora
fossem cortes nos dedos,...
com o sangue parado,
sem cheiro,....
e uma leitura religiosa
atenuasse a dor,....
se o tempo parasse,
e uma reza desconhecida,
fosse a palavra,...
que tudo recomeçasse?
2024/03/26
...a verdade e o medo
a verdade,
o baile de todos os dias,
justificado com a fluência
de insultos,....
os braços cruzados em
disputa,
a voz amarga,
os olhos ensimesmados,....
sentamo-nos com o fogo,
o sono de volúpia,
e o acordar madrugador,
com saudades,
de um afago de mãe,
de uma corrida inocente onde seja,....
o medo,
faz daqui,
o antes,
sem que o depois,
seja sequer sítio,
onde se possa duvidar
2024/03/25
A virtude
A virtude,
Sossega,
Desilude-te próximo do abismo,...
E o retorno será lento,
Abusivo,
Em desrespeito aos limites de som,
Que a dor nunca te impôs,...
É virtude sim,
À falta de melhor palavra,..
Em versos curtos como o que lês,
Abre o livro que melhor te assimila,
E tenta,
Aborda a tarefa de,...
Reconstruir a vida,
Em cima destes pressupostos
2024/03/24
...não saias de casa
não tens de sair de casa,
primeiro o pó,
depois a vontade,
a lonjura,
sapatos por atar que te
fazem mal à postura,....
sexo barulhento que
não é contigo,
uma eucaristia duvidosa
num rádio que vai morrer,
um gato que se insinua moribundo,
no parapeito encardido,
pássaros exfusiantes que se
enganam na vida que trazem,...
e tu ainda por casa,
não saias,
o tempo pesa mais
que a ausência
2024/03/23
Viver para sempre
Se vocês conseguirem,
As portas abrem-se,
Malraux descontrola-se,
Haverá sangue como troféu de consolação,...
Os desníveis vão acentuar-se,
Será noite mais cedo neste dia,
Basta que tentem,...
E um diamante pequeno,
Quase imperceptível,
Penderá do dedo disforme do louco da terra,....
Se conseguirem,
Haverá prémios no arregaçar de mangas dos trabalhadores,...
E não faz mal,
Já entardece por entre os dois pombos que agora me fazem refletir
...a que espera
a que espera,
por vezes há calor,
outras um frio que
assina como renúncia,...
esperas pelo outro,
por mim vestido de
velho,
esperas com um sorriso,
e um peso oriental
nas costas,
deformadas pelo medo,....
e há música,
um dedo de Dylan,
a selvajaria de Dvorak,
o que se quiser da angústia de Cave,....
e esperas,
se conseguir,
um dia alcanço-te
2024/03/22
Poema meteorológico
não se calam as primeiras chuvas,
a brisa de ti,
incomodada pelo sol que
aquece nos olhos,
e um tempo que anda de arrecuas,...
como as lições dos mais velhos,...
e de ti,
a torre mais alta
que vigia a aldeia
mais remota desta terra,
sobra a dúvida,...
árvores que medram na dor,
erva acastanhada de morte,...
sobram coisas que não devem,...
e o frio envolve-me
num manto de conforto
A beleza de um enredo
2024/03/21
Dia mundial da poesia
Ei,
Tu aí,
Esta é a minha poesia,
Sem dias e muito menos mundos
Domingo, Manuel da Fonseca (repetido,porque genial,neste blog)
Quando se escreve a sublinhado....
o ruído,
a desilusão tosca de quem
esgravata paredes,
à espera não que caiam restos
podres de qualquer coisa,
mas sim a vida,
a própria existência desfeita
em sonhos desapropriados,
gemidos falsos de sexo desaproveitado,...
a vontade excelsa de
mudar,
qualquer coisa,
o ruído faz pensar que sim,...
a filosofia pode deixar
de existir,
o tempo e o espaço
um dia sobreviverão,
mas o som desaparecerá,...
para voltar como conceito,
que ali interessa,
por ser subversivo
2024/03/20
Pessoa e Branca de Neve
Essa é uma possibilidade,
agora que sinto amor,
há duas visões no mesmo sol
na baixa de Lisboa,
sinto que mudei como pessoa
que já não sou,…
A felicidade passa por mim
como varina,
Uma velhota pede desculpa,
assustada,
apressando-se como pode para
sair da selva,…
já não sou do tempo,
nem o tempo é de mim,
observa os ponto e vírgulas
na verborreia que produzo,…
O Martinho da Arcada ainda abre,
quantas manhãs,
e tardes de calor absorto,
quanto passos passaram
desde que o homem de Durban
aqui andou
2024/03/19
Triptico do medo
2024/03/18
Viver a desrespeitar
Viver o sol,
As fases abstratas da vida,...
Viver de gato na mão quando o corpo pede solidão,
Viver como aminoácido,
A processar razões para entender o caminho que se desdobra,...
Viver a desrespeitar frases feitas,
Virgulas fora do sítio,
E entoaçôes falsas,
Como carne de sabor adulterado,...
Viver sem pedir as licenças que,
Se exigem,
Num texto que se quer,..
Sem fim
2024/03/17
Linhas firmes
2024/03/16
O senhor Ayoama
A casa do senhor Ayoama falava por si
própria. Dizem que sim, pelo menos. Eu concordo, só de a observar de longe,
enquanto espero que o sol baixe na rua contígua.
É uma construção antiga, com balaustrada íngreme e a aparentar instabilidade.
Quase parece que a tragédia pode estar iminente. Tem janelas de tamanhos
diferentes, todas com portadas e cortinados velhos e amarelecidos pelo tempo e
a poluição da rua movimentada. O senhor Ayoama raramente se deixa mostrar. É
uma figura preponderante da tradição japonesa que a minha rua sempre teve.
Tinha chegado ali há uns 30, 40 anos, com o pretexto de abrir um negócio de
quiropatia. Foi ficando, casou-se com duas mulheres que, segundo se diz, o
deixaram por se terem consumido numa tristeza de razões que nunca foram realmente
percebidas pelas pessoas.
O senhor Ayoama tinha raízes desconhecidas. Andava agora pelos 80 anos, apesar
de a aparência o levar para pouco mais de 60. Todos o
cumprimentavam quando, manhã cedo, saía de casa para um passeio ao centro da
cidade. Usava um chapéu de feltro, um sobretudo acastanhado a que aparentava
ter um grande amor. Calças de tweed, e sapatos de bico fino, que lhe
dificultavam um pouco a locomoção.
Mas nem isso lhe tirava uma boa
disposição que todos apreciavam. Após alguns minutos na rua, voltava a casa com
um saco parco de compras. Mercearias para abastecer a casa, e flores. Todos os días
flores, que usava com frequência para embelezar os parapeitos da janela de
casa.
Outra atividade que se reconhecia ao senhor Ayoama era a pintura. Em especial
quando o tempo aquecia. A meio da tarde, quando a brisa vinda da foz do rio lhe
entrava pela casa dentro, envolvendo-se numa dança virginal com os cortinados
envelhecidos, o idoso japonés era visto concentrado em frente a uma tela. Do
exterior era impossível perceber o que pintava. Apenas que a arte lhe
proporcionava alegría. Um sorriso insólito e permanente, que podía observar, e
me deixava também feliz.
Um dia, o senhor Ayoama pareceu ter-se fartado do que tinha sido a sua vida das últimas décadas. As pessoas começaram a ver várias carrinhas paradas à
porta de casa, com estafetas empenhados em carregar os parcos haveres do
respeitoso oriental. Até que uma jovem de pele alva, olhos rasgados, e total
discrição, surgiu em frente ao prédio. Pressionou a campainha que dizia
respeito à casa do senhor Ayoama, este surgiu à janela sorridente, e mandou-a
subir.
Por algum tempo, dedicado ao meu passatempo dos inícios de tarde de há muito,
vi-os parados na janela da divisão de casa onde normalmente o senhor Ayoama
pintava. Falavam, sem que percebesse sobre o quê. Ocasionalmente, ele punha-lhe
a mão nos ombros, e abanava-a muito levemente. Talvez um aspeto do
relacionamento pessoal oriental que desconheço. E fazia frio, uma súbita
descida de temperatura naquele canto caldo do mundo, quando o senhor Ayoama
saiu pela última vez do prédio onde tinha morado por tanto tempo. Veio
acompanhado pela sua jovem e desconhecida amiga, Segurava uma mala de xadrez,
com um pedaço de tecido, quase mínimo, a pender do fecho. Ela trazia dois vasos
com flores. Quando chegaram à rua, olharam ambos para cima. Os primeiros pingos
de chuva surgiram, e selaram a despedida do que foi um raio de sol que abraçou
aquele canto do mundo. O senhor Ayoama. Desconheço onde possa andar agora.
2024/03/15
Um dia o mundo acaba em declive
a terra sem pássaros,
árvores de morte
espalhadas sem critério,...
um caminhar pesado,
que se arrasta,
o mundo acaba em declive,
e o homem sorri,...
desenha no ar as ideias
fortes de uma vida,
e o chapéu,
e a roupa que quer,....
chove,
a carne consome-se
em dor,
e o homem mantém-se,
erguido,
enquanto lê
o que o planeta escreve,
em fogo
2024/03/14
We don´t care about us
lados,
a vergonha é uma
cara,
o desespero a outra,....
o meu amor pesa arrobas,
tem o mundo todo
dentro do sorriso,
e o desejo esgotado pelo fogo,...
o meu amor
está na chama
que desvanece,
foge da chuva,
tem pés de alento,
e corpo de incúria,...
o meu amor somos nós,
eu e tu como balões,
que só param onde
este mundo acabar,
e aí num raio de luz,
faremos de nós
um amor que foi,
e talvez continue,
para sempre a ser
2024/03/13
Insinuante e erótico
Finalmente o medo,
De todas as saídas possíveis,
Prefiro as formas desconhecidas,
O peso inocente e reconhecido da falta de virtude,...
O medo que chega sempre desacompanhado,
De roupas soltas,
Lábios deformados,
Insinuante e erótico nos atos,...
Por isso até o tolero,
Sentado imóvel à mercê do vento que,
Anuncia o inverno,
Permito que ele venha para ficar
2024/03/12
Formas geométricas invisíveis de ti
Mentimos e as veias pulsam,
Há um caminho para ti que os jornais anunciam,
E o vento sopra de mim,...
Não tenho pele para a solidão,
Havia formas de desleixo,
Que só existem em mim na roupa que espalho para trás,
Nos sustos do gato quando fecho a porta para sair,
No teu cheiro,...
Há formas geométricas invisiveis de ti,
Que dormem comigo,
Fogem comigo,
E encimam esta amálgama de confusão,
Em que me vejo transformado
Tirado daqui2024/03/11
Eyes wide shut
Tirado daqui
2024/03/10
O que de pior, o real tem
desfigurações,
rostos queimados,
um bolso vazio de amor,...
concebemos uma solução,
o que passe por equilibrar
uma notícia,
e uma morte,...
assim esperamos da manhã
uma vontade,
da tarde a ilusão,
e da noite o que vier,...
as pessoas anónimas,
o que somos,
os que aceitam
o que de pior,
o real tem
2024/03/09
...talvez um beijo
pequena,
sincera,
devota,
uma pessoa sem rebordos,....
está vento,
admiro-te pela
inteligência,
para ti números
são corpos,
que importa desbravar,...
e o silêncio,
as noites perdidas algures,
são para pensar,
descredibilizar o ser,....
uma pessoa analítica,
e pensa-se tanto quando
tudo é sensorial,....
talvez um beijo,
perceba esta
conversa sem palavras
2024/03/08
Um dia gostava de saber escrever assim
manuel antónio pina / o braço
É ele que na sombra mexe os cordelinhos
De milhões misteriosos de dedinhos
Com que o mendigo se coça e se alimenta.
na da Rua de Santa Teresa e da Ga-
leria de Paris
Tão célere que o cego não entende
Dos braços da música que toca
Qual o que abraça qual o que ele estende.
Desabafos de New Wave
olhos no chão,
uma sensação de pele
eriçada,
como um animal assustado
e sem teto,...
revemos os silêncios,
as partes ofegantes,
em que o sexo se sobrepôs à necessidade,...
para falarmos das verdades,
enquanto em redor ainda
cheira a perfume dos nossos pais,
e há um som aparentando os desabafos de
New Wave
2024/03/07
Escrita de desassombro
2024/03/06
numa história tosca...
Está esquecido,
o risco da história,
as frases inocentes que,
sendo outrora casa,
hoje são perdição vestida,
de velha com braços de maldade,...
habitamos nos intervalos das memórias,
é nosso o risco da vontade,
o desabamento que se segue ao orgasmo,...
é nosso,
sem retorno de precisão,
ou de lamentos,....
numa história tosca,
mas incrivelmente precisa,
e triste.
2024/03/05
Nuvens de basalto
a curva de um pé defeituoso,
a silha onde as abelhas zumbem,....
às vezes o pelouro dos políticos,
explicado aos desesperados,...
o que se repete de excessivo,
de ilusório,
as peças desperdiçadas da vitória,...
o corpo que se ergue,
às vezes é tudo,
quando nem horas são para a loucura
Estação de comboios de Kiyevsky
Photo by Mikhail Trakhman
(Moscovo, 1960s).
2024/03/04
Bater no fundo
o amor não está aqui,
nos olhos fechados,
não decisões por assumir,...
naqueles erros de meio de madrugada,
desculpados com um corpo
suado e uma língua envergonhada,
e ao mesmo tempo sob sentença,....
pede-se um texto de devaneio,
a presença oculta de quem os outros
nos lembram,
a presença de versos ofensivos,
com copos de álcool rachados,
e que nos masturbam os lábios,....
eu penso em criação,
nas páginas douradas de
daqui a mil anos,
choradas por uma mente em formação,
se ainda houver chão para pisar,...
não penso em mais nada
que preste,
por isso terá de ser,
bem redigido