2019/02/26

Nunca mais pensei no redobrar de cuidados que eram as tuas manhãs

Nunca mais pensei no redobrar de cuidados que eram as tuas manhãs. Ao nos afastarmos, chovia. Recordo-me bem das gotas desmedidas que me beijavam o crânio, fazendo do adormecimento do meu ser um poema sem fim, e sem sentido. Não mexi um músculo do meu corpo. Lembro-me que o que mais me entristeceu, foi aquele sentimento vulgar e repisado de não ter conseguido perceber se choravas. A tua pele, normalmente parecida ao café de todas as manhãs, estava branca do frio. Vi-te esvaziada de sentimentos, quase como se do teu corpo saísse todo o ar de um balão, preso instavelmente nas mãos de uma criança triste.
Nunca mais pensei, mesmo, em tudo o que tinha de não fazer para que das manhãs, pudessem surgir as tardes contigo. E depois as noites que começavam sempre da mesma forma. Com um passeio feliz, e idealista, por aquela rua de prédios desmaiados, flores sem vida, mas que adoravas. Chamavas a cada pedra revirada, ao todo sem cor, a tua paleta de uma obra por acabar.
Não gostava, mas aceitava. Por fim, ao regressar a casa, apercebia-me de tudo o que me apetecia escrever para mascarar o impedimento da fala que sentia.
Já não penso, mesmo, no redobrar de cuidados que eram as minhas manhãs. Talvez por isso, nunca mais tenha tido olhos estranhamente alumiados com a percepção de vida.


3 comentários:

  1. Mais um bom texto! Não te cansas de escrever coisas bonitas? ;) Boa semana.
    Cumprimentos, Os Piruças

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  2. Gostei! Acho que as palavras mais bonitas são assim, práticas e sentidas.

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  3. Obrigado Henrique Ribeiro, pelo comentário.
    :-)

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