2024/10/01

Outubrando a 2 de Junho

Era uma menina, sorria. Não sabia os seus limites, e achava que os sorrisos eram pedaços das nuvens que, desprendidos do céu, atingiam as pessoas que eram felizes à sua maneira. Uma menina de dois rostos: um público, bem desenhado, escorreito, de pele lisa e sem incorreções. O rosto que se lhe colava todas as manhãs, mal saía do seu mundo. O mesmo com que enfrentava a simpatia, e a arrogância. O desejo, e o ódio. O mesmo que lhe fazia manter a postura, dar passos sem destino até onde o acaso quisesse. Um rosto que era uma herança. Dos que lhe dando vida, lhe deram força para reescrever todos os momentos menos bons com que se deparava. E um rosto escondido. Velho, triste, encarquilhado como uma maçã morta pela pressão do ar poluído da existência. E era assim que tinha de seguir. Uma decisão ambivalente entre um rosto cativante, feliz, e a outra face da morte que arrastava, pela escuridão


                                                                        Tirado daqui

Fotografia de Natalia Drepina