Todas as manhãs escondia-se do sol. Já tinha um mantozinho,
cortado mesmo à medida, e feito de uma rede mosquiteira que apanhara na rua.
Fez mangas, dois bolsos para pôr as coisas da costura, e servia como uma bata.
E desde que aquela maldita bola amarela aparecia, até que a escuridão voltava,
ficava sentada numa cadeira de verga, na cozinha escura, a ver o gato malhado a
brincar com duas bolas de pêlo. Enganava o estômago, quase sempre, com dois
bocados de pão que lhe trazia a vizinha do piso de cima, mal a noite chegava, e
uns bebericos de chá que a cafeteira
dava quando a lenha queria queimar e cuspir calor. Não era coisa que gostasse,
fazer aquilo. Mas em criança ouvira falar de que o sol queimava as ideias às
pessoas, já para não falar que deixava o cabelo tipo fios de esparguete depois
de cozido. E assim se foram passando os anos. Quando começou já não era nova. E
já perto do fim sentia-se só um bocadinho velha. Por isso, quando o último
suspiro chegou, ao menos ficou o conforto de que o gato que brincou anos a fio
com duas bolas de pêlo tinha crescido, envelhecido, e agora jazia à entrada do
quintal.Ele sempre gostou de sol….
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