2025/10/10

Há pequenos sons,...

 Dito de outra forma,

A sombra está projetada nas paredes sobrepostas deste sítio,...


Há pequenos sons,

Fugidios,

Que escapam ao sentir básico das pessoas que por ali passam,....


Entende-se mal a explicação histórica,

Deste que é um monumento esquecido,

Onde terão passado reis,...


Princesas partidas de coração,

E até um bobo,

Homem enlouquecido,

E do qual se sente ainda a virtude escondida que esgrimia em silêncio 

                                                                        Tirado daqui

2025/10/09

O rosto do que arde,...

 não sabemos de todo,

o rosto do que

arde,

as insuficiências

do que fica,....


passos soltos,

que deixam para trás

a ruína,....


nem suspeitamos,

que quando quem

respira,

ofega,

esforça-se por

agarrar a vida,...


há um relógio que

se move,

lentamente,

em sentido oposto

à previsão de que a Terra

 vá deslizar,...


e os corpos podem,

porventura,

agarrar-se

com dificuldade,

às impaciências de existir


                                                                    Tirado daqui

2025/10/08

Saberás de novo ler sangue,..

 À pressa,

O teu corpo não é o meu,

Sei só que quero escrever um livro,

E pensar em cardos,....


Dizer de abraços que eles não me merecem,

E quem sabe,

Quando o cheiro a desejo esmorecer,

E for noite onde te deitas esquecida dos meus passos,

Saberás de novo ler sangue,....


E com isso volto a erguer-me,

Chamarei ponta de sol aos pés cravantes do escuro no meu peito,

E depois será com as minhas regras,

A minha vontade,

E a tua mão à procura da minha

                                                                                Tirado daqui

2025/10/07

O amanhã depois,..

 As vezes de partes,

São mais que os muitos de nunca,

E as hesitações de tantos,...


No meio das pausas do orvalho,

Tentar um caminho nas imprecisões do que como isto é indefinido,...


Não tem voz,

Nem sequer linhas de passos irregulares,

E Torna difícil a precisão de um abraço,

De um toque,....


E como eu o mundo agora,

O amanhã depois,

A noite despida de pele morena,

Quando chegar 

Autoretrato nas orquídeas
Claude Cahun
1939

2025/10/06

Um cão acentuado,...

 Há quantos meses,

Divertido mas soturno,

Um cão acentuado caminha sem destino,....


Parti por entre os desiludidos,

Recordo-me,...


Era um final de verão acrescentado,

Com desenhos toscos,

E sentia-me só,...


Mas realizado 

                                                                 Tirado daqui

De: Felix Vallotton
Squatted Woman Offering of Milk to a Cat
1919

2025/10/05

E que gostava de escrever à noite

 Soube que ele estava a escrever um livro. Contaram-me, mas ninguém parecia saber qual seria o final do mesmo. Sabia-se que havia duas mãos sobre o manuscrito. Ele recusava vender-se a auxiliares mecânicos da ligação cérebro-membros humanos. E que gostava de escrever à noite. Quando a lua esticava os braços, e o sol deslizava pelos rebordos do mundo, para ir mostrar o seu rosto no outro lado da existência.

Gostava do escuro. A profundidade da descrição das personagens, tornava-se assim mais intensa. Mais fantasmagórica. E com números claros de desilusão, plasmados nos respetivos rostos. Ele era isso: um autor de desilusões. E secreto. As pessoas que o conheciam, dedicavam-se a uma observação casual, mas atenta. Eu incluído.

Decompunham-se os seus gestos de rotina; quando saía de casa, e descia a rua para o primeiro café da manhã. Quando voltava já ao entardecer, cabisbaixo, com cuidado para evitar os desníveis do terreno da zona velha da cidade onde escolhera morar. Imaginei, pessoalmente, se isso constaria do enredo. Pensei em mulheres anódinas, conciliadoras, que viviam para a família, mas em segredo alimentavam desvarios que só elas próprias saberiam descrever. E ele era pessoa para captar isso, e descrever em figuras de estilo. Um baile de rua de figuras de estilo, atraentes e atrativas

                                                                          Tirado daqui

2025/10/04

e comer a ansiedade,..

 todos os planos

nada

fizeram por mim,

pensava no retorno,

nos triângulos do retorno,….


nas linhas retas

por que deixa de se regressar,

em círculos,

dias infindos

a andar à volta de um

ponto mínimo no chão,....


e sentir que

era noite,

baixar-me para

apanhar o pó,

e comer ansiedade,

 doses monstruosas de

descontrolo,….


 que me faziam perder

 a história,

e pensar em chamar-me

Manuel de Qualquer Coisa,

o protetor das horas curtas,....


e era isso,

nada adiantava

planear,

só esperar



                                                                   Tirado daqui

Felix Tobeen

On The Dune

Cerca de 1914

2025/10/03

E por isso esconder,....

 Um plano,

A verdade montada no vento forte que se acumulava,...


Não dizer que se espera o inesperado,

A montra escassa do silêncio,...


Saber que,

Como os teólogos antigos diziam,

O homem cinge-se ao etéreo,

À falta de racionalidade,

Mesmo que diga o contrário,...


E por isso esconder,

Esconder o lado animalesco,

O profano do ódio ao espiritual,

Um plano de reconstrução pessoal,....


A ideia era passar a ser diferente,

Quando o novo dia nascesse 

                                                                    Tirado daqui

2025/10/02

Mas fosse o que fosse,...

 Pareceram-me as loucuras com peso e medida,

Ela dizer que se abeirava de homens,

E lhes mostrava o desejo,

Conforme ele sempre foi,

Com cores, 

E gatos queridos a passearem em cozinhas vazias,....


E fazia-o consciente de que podia estar errada,

Mas fosse o que fosse seria o seu erro,

Ela a mulher de todos os dias,

Amarga nos intervalos da boca,

De corpo doce mas em decadência,....


Eram loucuras saudáveis,

Mas extremadas,....


O futuro próximo fazia-me pensar 

                                                                      Tirado daqui

2025/10/01

Outubrando a 21 de maio

                         Tirado daqui

Nagai kazumasa

(Poster)

não a mim,

não ao meu peito,

não e apesar do erro,

não que esteja

escrito na rua,....


não percebo,

não entendo

o que me sobra à noite,

não quero mais leite

estragado,...


nem a porção certa

de um livro rasgado,

não posso explicar,

porque nada te devo,

não há a noite

nem o dia para mim,

não me quero sequer

na madrugada,

simplesmente não


2025/09/30

O rosto envelhecido,..

 As palavras não me sabiam,

O vento rezava por cima de um amor de esquecimento,...


Apresentei-me como o sol dos sapatos velhos,

O rosto envelhecido,

Que o sol humedece e a terra frita,...


Ás vezes,

Conheço-me como sombra,

Resposta iludida e ilusória,

Mas uma continua corrente elétrica de dias repetidos,...


E acabou-se,

Tão depressa como a novidade de ser novo num instante que morre

                                                                           Tirado daqui

2025/09/29

Começou a chover,...

 Escrevo histórias porque mas dão,

sim,

a manhã levanta-se,

a noite lamenta a roupa velha,

as rugas desnecessárias,…


e à porta,

após dois baques suaves,

encontro uma criança perdida,…


fala-me do além,

que o mundo se põe a jeito

de levar com almas inconsequentes,

e ao afastar-se faz-me o gesto da paz,…


começou a chover,

voltei para a minha parca habitação,

e sentado a escrever encontro-me

em versos de prosa,…


sim,

dão-me histórias como estas,

e eu faço delas rebordos de solidão